Garrafas plásticas ‘não recicláveis’ de leite incomodam consumidor

No último mês de agosto, a jornalista Carolina Tarrío foi até a fábrica da marca de leite que ela compra para devolver 365 garrafas de plástico vazias –o equivalente ao consumo de sua família de quatro pessoas durante um ano. Durante a ação, em São Paulo, a jornalista entregou à empresa uma carta assinada por 157 compradores da marca insatisfeitos com o fato de não conseguirem reciclar as embalagens. A empresa diz que o plástico foi escolhido por ser “seguro para o envase do leite” e “não resultar em um produto final de custo elevado”. “Só uma pequena quantidade do plástico é reciclado no país. O material perde qualidade a cada reciclagem e chega um momento em que não tem mais para onde ir. Deveríamos recusar embalagens assim”, diz Carolina. Após a devolução das garrafas, a empresa prometeu instalar um ponto próprio de coleta das embalagens em sua unidade de São Paulo. Tarrío lembra, no entanto, que o maior problema não é o recolhimento do material, mas sim o correto encaminhamento para a reciclagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos diz que as empresas são responsáveis pelo descarte do que produzem. “Precisamos de uma sensibilidade maior da indústria. Não basta lançar o produto, a empresa deve verificar com as cooperativas se ele tem valor para voltar à cadeia produtiva”, diz Wilson Santos, coordenador de projetos de sustentabilidade da Cooper Vira-Lata, de coleta seletiva. Segundo Carlos Humberto Mendes de Carvalho, presidente do Sindileite (sindicato das indústrias do setor), não existe um mecanismo para obrigar as empresas a usar ou deixar de usar determinados tipos de embalagem. Em março de 2018, a organização planeja realizar um simpósio que deve unir especialistas e indústria para discutir o tema. Segundo Carvalho, o evento é o primeiro passo para a implementação de um sistema de logística reversa nas empresas paulistas.