Mortes: Cego com orgulho, foi compositor de baladas de sucesso

Todo aniversário Sérgio ganhava gaitas de boca. A primeira recebeu porque os parentes não sabiam muito bem como presentear uma criança cega. As seguintes vieram na forma de investimento: já nos primeiros assopros, o menino apresentou um talento musical incomum. Da gaita passou para o piano, instrumento ao qual se dedicou durante 48 anos de carreira. Compositor, cantor, arranjador e técnico de gravação, Sérgio Sá foi autor de mais de 350 canções. Sob o pseudônimo Paul Bryan, surgiu para o grande público com a balada “Listen”, da trilha sonora da novela “O Bem Amado”, da Rede Globo. Depois disso, vieram parcerias com artistas como Roberto Carlos, Tim Maia, Fábio Júnior e Vanusa. Cego desde o nascimento, Sérgio mudou-se sozinho para São Paulo aos 11 anos, para estudar no tradicional Instituto Padre Chico –Fortaleza, sua terra natal, não tinha escolas especializadas. Um ano depois, os pais e a irmã mais velha também trocaram de endereço. A reconfiguração não foi uma doação sem contrapartida: a família também ganhou com a singularidade do então caçula. “Aprendemos a nos abrir a outros sentidos e emoções”, diz a irmã Eliana. Editora, ela publicou três livros sobre a condição do músico: dois escritos por ele e um pela mãe. Bem-humorado, nunca lamentou a cegueira. “Beethoven não compôs o que compôs sendo surdo?”, dizia. Também rejeitava ser chamado de deficiente visual –para ele, um eufemismo. Morreu nesta terça (3), após um infarto. Deixa mulher, duas irmãs, três filhos e quatro netos. [email protected] – Veja os anúncios de mortes Veja os anúncios de missas