Técnico mais longevo do Brasil tenta primeiro título nacional

Foi em 2014 que Sergio Malucelli, gestor do Londrina, chamou o técnico Claudio Tencati, 44, para conversar. “Eu ia te demitir. Mas vou dar outra chance. Acha que tem condições de ganhar do Coritiba?”, perguntou o dirigente. Uma vitória classificaria a equipe no Campeonato Paranaense. Derrota a deixaria na zona de rebaixamento. “Nós vamos ganhar do Coritiba”, foi a resposta. O time venceu por 2 a 0 e, em seguida, foi campeão estadual. Aquela foi a única vez que o treinador mais longevo das quatro divisões do Campeonato Brasileiro correu risco de cair. Tencati tem quase seis anos e meio seguidos como técnico do Londrina. “Se eu dissesse que foi planejado, seria mentira. Não foi. O que dá credibilidade no futebol é resultado, não adianta”, diz o treinador. Foi o que conseguiu. Ao ser contratado, em abril de 2011, encontrou o Londrina na segunda divisão do Estadual e na Série D do Brasileiro. De lá para cá, colocou o clube na elite do Paraná e foi campeão. Após dois acessos, está na nona colocação da Série B do torneio nacional e, em 2016, chegou a brigar para subir. Neste ano, disputa ainda a final da Primeira Liga, na quarta (4), contra o Atlético-MG. O técnico trabalha para Sergio Malucelli, gestor do Londrina e ex-presidente do Iraty, também do Paraná, famoso por trocar de técnicos a cada seis jogos -não a cada seis anos. Mesmo assim, Tencati tem conseguido uma estabilidade rara no futebol. “Treinadores me perguntam como consegui. Não tem explicação. Há confiança. Em outros clubes, você tem de falar com o diretor, que conversa com o presidente. Há uma burocracia. No Londrina, meu contato é direto.” Em um período tão largo, porém, momentos de turbulência não foram poucos. Ainda mais em um clube que tem como finalidade formar jogadores e vendê-los. Sempre que isso ocorreu, o técnico pareceu tirar um bom resultado da cartola para acalmar a turma do amendoim no Estádio do Café, onde o Londrina manda seus jogos. NO DIVÃ Claudio Tencati nunca jogou futebol como profissional. Aposentou-se após uma contusão no Sub-20 do Cianorte, do Paraná, sua terra natal. Formado em educação física, teve a primeira chance como treinador no mesmo clube, entre 2007 e 2008. Foi lá que sentiu pela única vez o gosto da demissão. Por se recusar a colocar o goleiro Danilo, morto no acidente aéreo da Chapecoense no ano passado, no banco de reservas, perdeu o cargo após empate com o Iraty, em 2008. Foi a única vez. Depois disso, Tencati sempre deixou as equipes por receber propostas melhores. É o que espera acontecer no Londrina. Já houve chances. Sondagens de Figueirense, Criciúma, Goiás, Ponte Preta e Coritiba não deram em nada. Neste último caso, foi por pouco. “Se a negociação com o Coritiba tivesse avançado, teria ido”, afirma. Faz parte do acordo verbal que tem com Malucelli. O treinador não troca o Londrina por rival da Série B (ou mais abaixo). Mas, se for da Série A, a coisa muda. O momento de mudar é um dos assuntos que conversa nas sessões de terapia. Sabe que, quando mudar de emprego, entrará no mercado em que treinadores podem ser demitidos após quatro ou cinco rodadas. “Vai ser um desafio enorme.”