Operação contra grampo ilegal prende secretários de governador de MT

Dois secretários e um primo do governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), foram presos nesta quarta-feira (27) em Cuiabá, por suposto envolvimento num esquema ilegal de grampos. Ao todo, a operação comandada pela Polícia Civil pediu a prisão preventiva de oito pessoas, incluindo o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel da PM Airton Siqueira, e o secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas –afastado do cargo pelo Tribunal de Justiça na semana passada, quando passou a usar tornozeleira eletrônica. O ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques, primo do governador tucano, também está entre os presos. Completam a lista o ex-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, sua mulher, Helen, o sargento da PM João Ricardo Soler e o empresário José Marílson da Silva. O major da PM Michel Ferronato está foragido. Houve também a condução coercitiva do corregedor-geral da PM, coronel Carlos Eduardo da Silva. As prisões se baseiam no depoimento do tenente-coronel José Henrique Soares, ex-escrivão do inquérito policial militar que investiga os grampos. Soares relatou às autoridades que foi coagido pelo grupo investigado a gravar o desembargador Orlando Perri, que acatou o pedido de prisão da Polícia Civil. O objetivo, afirmou o militar, era encontrar algo que pudesse afastar o magistrado do caso. “Descortinou-se um sórdido e inescrupuloso plano no intuito não apenas de interferir nas investigações policiais, mas, principalmente, de macular minha reputação em todos os inquéritos instaurados para se investigar os crimes de interceptação telefônica, com o nítido propósito de me afastar da condução dos respectivos feitos”, escreveu o magistrado. AMEAÇA Na decisão, Perri afirmou que as prisões visam proteger Soares e seu filho, que estariam sendo ameaçados. O desembargador afirmou ainda que a prisão ocorreu sem manifestação do Ministério Público Estadual devido ao “possível envolvimento de promotor[es] (sic) de Justiça na organização criminosa”. Um dos citados é o procurador-geral de Justiça, Mauro Benedito Pouso Curvo. Em nota, Curvo afirmou que a citação “é uma canalhice e de total despropósito com a finalidade de enfraquecer a instituição”. Ele afirmou “que confia no Poder Judiciário e que adotará todas as providências cabíveis para responsabilizar os envolvidos”. O procurador-geral de Justiça enfatizou que foi o autor da denúncia oferecida contra os militares envolvidos na organização e que requereu a decretação da prisão preventiva da pessoa que o citou em depoimento. O escândalo foi revelado em maio. Entre os que teriam sido alvo de escuta telefônica ilegal, administrada por oficiais da PM, estão adversários políticos de Taques e jornalistas. A denúncia foi feita pelo promotor Mauro Zaque, o primeiro secretário de Segurança Pública da gestão do tucano. Ele pediu demissão em janeiro e diz ter alertado Taques sobre as escutas ilegais. O tucano nega. OUTRO LADO Em nota, o governo de Mato Grosso, do tucano Pedro Taques, afirmou ter recebido com “surpresa e perplexidade” a operação da Polícia Civil desta quarta (27). “São fatos gravíssimos que, se comprovados após o devido processo legal, merecem a indignação de toda a sociedade mato-grossense”, afirma o texto. O governo estadual diz que está colaborando com as investigações e que determinou o afastamento do secretário da Justiça, Airton Siqueira, preso nesta quarta, até o esclarecimento das denúncias. Em entrevista coletiva na semana passada, porém, Taques criticara duramente o desembargador Orlando Perri, que acatou o pedido de prisão dos seus secretários. Na semana passada, Perri já havia determinado o afastamento do secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Rogers Jarbas. O tucano classificou a decisão de “absurda e esdrúxula”. Até o fechamento desta edição, nenhum representante legal dos oito presos havia se manifestado sobre a operação desta quarta.