Mineradores de criptomoedas no Brasil se queixam da conta de luz

Se comprar e vender para lucrar com as variações de preço de criptomoedas é uma atividade com alta procura, há ainda quem se especialize na emissão dos ativos —os mineradores. O nome mineração vem da analogia com o ouro. Para simular a escassez, como a que existe no minério, os programadores que deram origem ao bitcoin inventaram um problema matemático (imagine algo como 2x + y > 0). Os computadores encontram, uma a uma, todas as soluções para esses problemas, e cada resposta é uma criptomoeda. No caso do bitcoin, existem 21 milhões de soluções possíveis. No Brasil, a atividade de minerar é limitada pela dispendiosa conta de luz gerada por computadores rodando programas dia e noite. O minerador Cristiano Valverde, 37, fez um investimento de R$ 70 mil no seu equipamento há quatro meses, e teme que a alta da conta de luz associada ao período de seca nos próximos meses vá atrasar seu retorno. Ele extrai o ethereum, moeda mais comum entre amadores. Como o bitcoin é mais antigo, é cada vez mais difícil achar novas soluções, e só quem tem um equipamento caro e especializado consegue minerá-lo. “Quando comecei, previa retorno em seis ou sete meses, mas os valores do ethereum estavam em alta”, diz Valverde, que tem uma mina no interior de São Paulo e cogita usar energia solar. “Montei um galpão com refrigeração e comprei tudo à vista. Agora, em um cenário realista, vou conseguir o dinheiro de volta em até 15 meses, se a Eletropaulo deixar.” Quem investe em mineração caseira, como ele, usa placas gráficas. Geralmente usadas para jogos, as placas AMD Radeon e NVDIA GeForce são boas em rodar muitos algoritmos ao mesmo tempo, aumentando a chance de descobrir os números da sorte. É com essa habilidade que, nos jogos, é calculada rapidamente a trajetória de um tiro no Call of Duty, ou de um jogador correndo no Fifa. As placas chegam ao Brasil via importação, e, novas, custam por volta de R$ 2.000. Na China, que tem 70% da capacidade de geração das bitcoins, as condições são mais favoráveis, com proximidade dos fabricantes de chips e energia elétrica barata. Em agosto, a mineração de bitcoins gerava até R$ 38 milhões ao dia, número que caiu para metade com os reveses regulatórios em setembro. Uma preocupação mencionada por mineradores é o risco de ter sua conta nas corretoras invadida e perder o dinheiro, já que é comum fazer tanto a mineração quanto o comércio das moedas. É o que faz Leonardo Kikuchi, 22, de Campinas (SP), que gastou R$ 20 mil que tinha guardado em sete placas. Ele minera ethereum e depois negocia outras criptomoedas. “A ideia surgiu porque eu tinha uma placa para jogo. Mas é arriscado. Tem que ter conhecimento técnico para minerar, não basta deixar a placa ligada”, diz. Ele trabalha nisso em tempo integral desde o começo do ano. Outros, como o policial militar André Primo, 25, aproveitam a atividade para ganhar dinheiro no tempo livre. Primo instalou sua mina em Marília, no interior do Estado. “Tem noite que você dorme e acorda rico. Mas tem que acompanhar as operações de compras e vendas.” Tanto mineração quanto compra e venda de moedas são investimentos de alto risco, adverte Gabriel Aleixo, do ITS-Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade). “Quem investir tem que saber que amanhã o preço pode ir a zero.” O jovem Pedro Ivo do Amaral, 18, perdeu R$ 5 mil investindo em mineração. “Não basta comprar o melhor equipamento, tem que acompanhar a moeda no tempo correto. Fui amador.”