Bairro do Bom Retiro, em SP, foi o berço do futebol nacional

DENILSON OLIVEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Bairro de imigrantes, o Bom Retiro foi o berço do futebol nacional. O primeiro campo oficial do país foi demarcado em uma propriedade na avenida Tiradentes, a Chácara Dulley. Originalmente, destinado à prática de críquete, o local foi adaptado, em 1896, por Charles Miller, sobrinho dos donos do terreno e responsável por trazer o esporte inglês para o Brasil. Em 1903, a família vendeu parte da área, e as partidas foram transferidas para Chácara Witte (na foto), onde hoje fica o campus da Fatec-SP. Foi também perto dali, nas esquinas da rua José Paulino com a Cônego Martins, que, em 1910, cinco amigos se reuniram à luz de um lampião para fundar um dos times mais tradicionais do país: o Corinthians. “Naquela época, só a aristocracia paulistana disputava partidas oficiais em clubes como o Paulistano e o Germânia [atual Pinheiros]. Então, surgiu o desejo de se criar um clube que representasse o operariado, para poder disputar o Campeonato Paulista”, diz o pesquisador Rafael Castilho, do Núcleo de Estudo do Corinthians. Em 1918, o time inaugurou seu primeiro estádio, o da Ponte Grande, no terreno onde hoje fica o Centro Esportivo Tietê. Lá jogou até 1927, quando o campo foi vendido. IMIGRAÇÃO Antiga área de chácaras, entre os rios Tietê e Tamanduateí, o Bom Retiro começou a se transformar com a chegada da Olaria Manfred, em 1860, e da construção da Estrada de Ferro São Paulo Railway, sete anos depois, que ligava Santos a Jundiaí e trazia os operários europeus vindos do porto. O bairro foi sede da primeira hospedaria de imigrantes de São Paulo e em seu entorno surgiram cortiços, além de fábricas e galpões que utilizavam sua mão de obra. Na antiga Rua dos Imigrantes, atual José Paulino, os italianos abriram seus primeiros negócios. “Eram alfaiatarias, pequenas oficinas de concertos de couro e sapatarias”, diz Stephanie Guerra, arquiteta e urbanista da USP e pesquisadora da região. Com a chegada dos judeus, o comércio da região se transformou. “Eles chegaram a partir dos anos 1920 do Leste Europeu e montavam confecções que vendiam por atacado”, diz Guerra. As lojas de roupas são a marca da região até os dias de hoje.