‘Vou reconhecer meus erros’, diz ex-secretário de Cabral

O ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes afirmou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas que vai admitir seus erros no cargo. Ele é acusado de ter participado de um esquema que desviou cerca de R$ 300 milhões no Estado. Côrtes depôs no processo em que é acusado de obstrução de Justiça, motivo pelo qual não detalhou seus crimes. Mas afirmou que pretende detalhar os casos na próxima audiência do processo sobre corrupção, do qual o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) também é réu. “Os meus erros vocês vão conhecer. O que eu não posso é inventar coisas”, disse Côrtes. A Folha revelou no mês passado que o ex-secretário já devolveu US$ 4,3 milhões à Justiça e pretende confessar crimes que cometeu no cargo. A negociação não faz parte de uma delação premiada, mas de busca de redução de pena numa eventual condenação. Ele já admitiu à Procuradoria parte dos crimes que lhe são atribuídos. Mas afirma que poucos fatos relatados nas duas denúncias contra ele são reais. Côrtes é acusado de obstrução por, segundo o Ministério Público Federal, tentar combinar com seu ex-subsecretário César Romero e o empresário Miguel Iskin fatos a serem relatados e omitidos numa delação premiada conjunta. Romero gravou uma reunião com Côrtes e fechou sozinho acordo com a Procuradoria. No depoimento, o ex-secretário de Saúde disse que o encontro tinha como objetivo discutir uma delação conjunta, mas não omitir fatos. Côrtes disse que foi ao encontro por orientação de seu advogado à época, Flávio Mirza. A defesa do ex-secretário juntou perícia indicando que a gravação entregue por Romero à Procuradoria sofreu cortes no início do diálogo. Côrtes disse que esse trecho mostraria que a reunião ocorreu a pedido do ex-subsecretário e deixaria claro o contexto da conversa. ‘PUTARIAS’ Uma das provas juntadas pelo MPF de suposta tentativa de obstrução de Justiça foi um e-mail de Côrtes para Iskin em que diz: “Meu chapa, você pode tentar negociar uma coisa ligada à campanha. Pode salvar seu negócio. Podemos passar pouco tempo na cadeia… Mas nossas putarias têm que continuar”, escreveu o ex-secretário para o empresário. Côrtes disse que o termo “putarias” não se referia a corrupção. Ele disse que a explicação foi dada em processo sigiloso comandado por Bretas. Sua defesa chegou a pedir que a sala fosse esvaziada para que fosse explicado, mas o juiz decidiu manter todos na sala. Iskin também negou que a palavra se refira a desvios de recursos públicos. Ele classificou como “covardia do Ministério Público” a inclusão da frase. “Isso é algo de foro íntimo. O Ministério Público sabe exatamente do que se trata”, declarou o empresário. “Não vou me estender. Mas a frase vem logo em seguida de outra: ‘Pode salvar seu negócio'”, disse o procurador regional, José Augusto Vagos.