Mortes: Torcedor-símbolo, advogado só vestia verde-amarelo

Assim que acordou, Nelson Paviotti foi até a sacada de casa e teve uma visão surreal. Dentro do seu Fusca, se amontoavam os 22 jogadores convocados para a Copa do Mundo dos EUA, dali um mês. Fez uma promessa: caso a seleção fosse campeã, só usaria as cores da bandeira. Graças a Romário (que passou a batizar o Fusca premonitório) e companhia, o advogado não só aderiu a combinações incomuns de terno e gravata como estendeu a regra para o seu escritório –da sala de atendimento às pastas de documentos, tudo era auriverde. A revelação claustrofóbica de Paviotti remontava às primeiras lembranças de infância. Ele contava aos filhos que, quando tinha dois anos, a mãe o acondicionava num buraco cavado na roça, por não ter com quem deixá-lo durante o trabalho e para protegê-lo do sol inclemente de Jaguariúna, no interior de São Paulo. Aos 19, mudou-se para Campinas e arranjou emprego na Bosch, grande indústria da região. Carismático, ainda jovem foi eleito representante dos metalúrgicos nas comissões internas da empresa. Tomou gosto pelos dissídios e, trintão, entrou na faculdade de direito. Formado, optou pelas áreas criminal e trabalhista. “Sempre quis defender os fracos e oprimidos”, afirma o filho Gustavo. A idiossincrasia cromática pós-1994 fez com que Paviotti ficasse famoso. Durante os preparativos do Mundial de 2014, repercutiu na imprensa nacional e estrangeira. Faz companhia ao Gaúcho da Copa desde o último dia 15, quando, aos 66 anos, sucumbiu a complicações decorrentes de diabetes. Deixa mãe, irmã, mulher e dois filhos. [email protected] – Veja os anúncios de mortes Veja os anúncios de missas