Vitorioso em série dramática, Hulu deixa marco histórico no Emmy

A TV americana fracassou na transmissão do Emmy, repetindo a sua pior audiência, registrada no ano anterior, 11,38 milhões de espectadores. O fracasso espelha um outro marco, maior e este sim histórico, na premiação. Como ele próprio festejou em nota à imprensa distribuída no final da cerimônia, o Hulu “se torna o primeiro serviço de streaming na história a ser premiado como melhor série dramática”. Era a categoria que as suas concorrentes Netflix e Amazon tanto buscavam, como marco da vitória do streaming (também chamado de vídeo sob demanda) sobre a TV tradicional ou linear (aberta e paga). O triunfo do Hulu, com “The Handmaid’s Tale”, evidencia uma mudança até maior: a concorrência se dá a partir de agora entre os próprios serviços de streaming, não mais com a TV. E foi vitória do mais fraco. O pequeno Hulu, com 15 milhões de assinantes, venceu a gigante Netflix, que acaba de passar os 100 milhões –e investe US$ 6 bilhões por ano em conteúdo. Netflix que recusou “The Handmaid’s Tale” há quatro, quando procurada pelos produtores da série antes de apelarem ao Hulu. Curiosamente, o feito histórico acontece num ano em que a TV tradicional tinha um candidato que prometia, no noticiário da véspera, a série dramática “This Is Us”, da rede NBC. Para um dos principais analistas do setor, Rich Greenfield, da consultoria financeira BTIG, o Emmy deste ano confirma como a TV aberta perdeu relevância e, mais importante, como os caros pacotes de TV paga se tornaram supérfluos. A mensalidade do Hulu, plataforma criada por Disney, 21st Century Fox, Comcast e Time Warner, não passa de US$ 7,99 (R$ 25). A plataforma de streaming da HBO, originalmente canal de TV paga e outra grande vencedora do Emmy, é hoje oferecida gratuitamente pela AT&T, operadora de acesso à internet. A própria Netflix sai de graça para os assinantes da T-Mobile. Para o público brasileiro, o Emmy foi frustrante porque o Hulu não tem data para chegar ao país e “The Handmaid’s Tale” só podia ser acessada por atalhos como VPNs, que dribla restrições geográficas aos usuários. Não ajudou o anúncio, no fim da tarde de segunda (18), de que o Paramount Channel comprou os direitos e vai transmitir a série premiada, mas “com previsão de estreia para início de 2018” e só para assinantes de TV paga. O tropeço mostra que, apesar de crescer aceleradamente, a ponto de Netflix (líder no streaming) já ter mais assinantes que Net (maior operadora de TV paga), o vídeo por demanda não acompanha o ritmo da transformação nos EUA.