Único filme brasileiro em Toronto, ‘Motorrad’ é recebido discretamente
Único filme 100% brasileiro no Festival de Toronto, “Motorrad” não guarda nenhuma semelhança com os títulos nacionais de forte carga social geralmente exibidos nas mostras estrangeiras. Dirigido por Vicente Amorim (“Corações Sujos”), é um longa de gênero, que mistura terror e ação para contar a história de um grupo de jovens perseguidos por um misterioso quarteto de motoqueiros. A ambientação do longa, nas poeirentas estradas da serra da Canastra, em Minas Gerais, contribui para desbotar as cores de “Motorrad”. Não há motivo claro para a perseguição. Pode ter a ver com o furto de um carburador cometido pelo protagonista, interpretado por Guilherme Prates. Ou não. É fato que o grupo será implacavelmente trucidado, em cenas que remetem ao “gore”, subgênero sanguinolento. Ao apresentar o longa, na noite de segunda (11), Amorim falou do status do cinema de gênero no Brasil. “Por lá, acham que não é coisa para cineastas sérios”, disse o diretor, que pela terceira vez mostra um filme em Toronto. Com passagem discreta pelo evento, o longa brasileiro ainda não havia ganhado resenhas nas grandes publicações que cobrem o evento até a manhã desta terça (12). Situação oposta é a de “Zama”, da argentina Lucrecia Martel, e de “Me Chame pelo Seu Nome”, do italiano Luca Guadagnino, que têm colhido críticas elogiosas. Ambos contam com parte do financiamento vindo do Brasil –da carioca Bananeira Filmes e da paulistana RT Features, respectivamente. “Zama” envereda por uma senda ainda não desbravada pela diretora argentina, conhecida por obras intimistas. É um filme de época, adaptado do romance homônimo de Antonio di Benedetto, sobre um burocrata espanhol do século 18 que sonha ser transferido do canto do atual Paraguai onde o deixaram. A forma como Martel retrata a empreitada, no limite do delírio, tem ecos de “Aguirre, a Cólera dos Deuses” (1972), de Werner Herzog, com cenas impressionantes de embates com índios e da cólera que devassa a população nativa. Para o jornal inglês “The Guardian”, pode se tratar da obra-prima da diretora, após nove anos sem longas. “Me Chame pelo seu Nome”, sobre o relacionamento entre Elio, um adolescente italiano, e Oliver, um americano mais velho, repetiu em Toronto os elogios que colheu em Sundance e em Berlim, no começo do ano, quando era conhecido pelo título em inglês, “Call me By Your Name”. Para a revista “Screen”, o longa de Guadagnino deve ser a grande aposta dos estúdios Sony para uma vaga no Oscar. Mas, após a vitória de “Moonlight” neste ano, é de se questionar se a Academia daria o prêmio a mais um drama sobre um relacionamento gay. BRIGA DE TUÍTES Na semana em que uma exposição em Porto Alegre foi suspensa pela temática sexual, o filme também trouxe o assunto para as redes sociais. O ator James Woods foi ao Twitter qualificar a relação entre os personagens de “Me Chame pelo seu Nome” de pedófila e indecente. tweet Armie Hammer, que vive Oliver no filme de Guadagnino, respondeu: “E por acaso você não teve uma relação com uma menina de 19 anos quando tinha 60?”. tweet Woods manteve por sete anos um relacionamento com Ashley Madison, iniciado quando a atriz tinha 19 anos. Na sequência dos tuítes, a também atriz Amber Tamblyn, 34, disse ter sido assediada por Woods quando tinha 16 anos. Ainda na rede social, Woods disse que a acusação era “uma mentira”. tweet * O Brasil também está representado em Toronto pela série da Globo “Sob Pressão”, de Andrucha Waddington e Jorge Furtado. O seriado, que aborda o drama de um hospital numa zona violenta do Rio, teve parte dos episódios exibidos, num aceno que a atual edição da mostra tem feito à produção televisiva. Outra série na programação é “Alias Grace” (Netflix), inspirada em obra da canadense Margaret Atwood, mesma autora da aclamada “The Handmaid’s Tale” (Hulu).