Português virou língua dos habitantes mais velhos em Timor-Leste
Entrar em um avião no meio da Ásia e ser interpelado em português soa estranho —exceto se o destino for o Timor-Leste, ex-colônia portuguesa que tem o idioma como uma das línguas oficiais. Apesar disso, pode ser difícil conseguir usar a língua quando se desembarca por lá. Só pessoas com mais de 45 anos falam o idioma com melhor desenvoltura. Os mais jovens até podem entender um pouco do que é dito em português, mas raramente respondem no mesmo idioma. A lacuna geracional é fruto da ocupação indonésia entre 1975 e 2002. O português foi proibido pelos indonésios e, consequentemente, virou arma da resistência. O tétum, a outra língua oficial do país, ganhou força entre a população. Tornou-se o idioma mais usado no Timor Leste, superando os mais de 35 dialetos locais. Desde a independência, o Estado timorense quer restabelecer o português como idioma mais falado na ilha. Para isso, desenvolveu uma política para que as escolas voltem a ensiná-lo. Algumas questões como a falta de professores e a preferência pelo aprendizado do inglês tem dificultado a expansão. Desde 2002, Portugal e Brasil contribuíram com o intercâmbio de educadores, mas a ajuda nem sempre foi consistente. O Brasil, por exemplo, que já chegou a ter cerca de 200 professores em terras timorenses, hoje não tem mais nenhum atuando por ali. De acordo com o embaixador do Brasil em Díli, Aldemo Garcia, o envio dos profissionais foi suspenso por questões orçamentárias brasileiras, mas o país ainda colabora em outras áreas. SOBREVIVÊNCIA Para o gerente de projetos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) em Díli, Paulo Paniago, a recuperação do português como língua mais falada é uma questão de sobrevivência para o Timor Leste. “O português é a língua que dá uma certa unidade ao país e serve como referência para os timorenses. É preciso criar uma identidade própria”, afirmou ele à Folha. Paniago destaca a vergonha como obstáculo para um uso mais amplo do português. De acordo com ele, alguns jovens entendem bem o idioma mas não se sentem à vontade para falar por achar que não dominam bem a língua. Já o inglês é visto como mais fácil e mais útil. Hoje, o português é principalmente a língua da burocracia timorense e da elite mais intelectualizada. As leis e as normas oficiais estão sendo todas escritas em português.