Delator de Nuzman cobra intervenção do COI no Comitê Olímpico Brasileiro

Eric Maleson, 50, dirigiu a CBDG (Confederação Brasileira de Desportos no Gelo) e participou dos Jogos Olímpicos de Inverno como atleta do bobsled, mas seu papel dentro do esporte nacional ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (5). O carioca, que vive em Boston, tornou-se delator de um suposto esquema de compra de votos que teria eleito o Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e que foi exposto em operação da Polícia Federal. O presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e do Comitê Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, é alvo da investigação. Maleson se propôs a depor a investigadores franceses e deu informações sobre supostas irregularidades no COB e no processo eleitoral que garantiu os Jogos de 2016 para o Rio. Agora, ele quer que as apurações e desdobramentos continuem. O carioca, que há cinco anos deixou a CBDG e é desafeto de Nuzman, afirmou que enviou comunicados ao COI (Comitê Olímpico Internacional) pedindo que faça uma intervenção no COB. “Foi um dia triste para o esporte brasileiro, porém um dia de esperança. Não tenho dúvida de que o COI terá de intervir ou então solicitar uma mudança drástica dentro do COB. Eu fiz novamente esse pedido. O COI tem obrigação de intervir quando há indícios como os que foram revelados na operação da PF. Isso está no próprio estatuto do COI, afirmou Maleson à Folha. “O COB precisa de uma intervenção e mudar toda a administração, com pessoas idôneas e que conheçam o esporte brasileiro.” O ex-dirigente da CBDG disse que enviou uma missiva em nome do alemão Thomas Bach, atual presidente do COI. Ele também ressaltou que procurou a entidade, responsável por organizar os Jogos Olímpicos e regular o Movimento Olímpico internacional, desde que o antecessor de Bach, o belga Jacques Rogge, estava no poder. Porém, nunca obteve retorno. “Desta vez eles vão atender. Porque se não atenderem serão coniventes com o que está acontecendo. O COI pode ser acionado por negligência. Também precisa tomar cuidado, porque tem a obrigação de tomar partido”, afirmou. Na terça, o COI se pronunciou após a operação da Polícia Federal. A entidade, que é baseada em Lausanne, na Suíça, disse ter “total interesse” no esclarecimento desse assunto. “O COI soube destas circunstâncias [da operação] por meio da imprensa e está fazendo todo o esforço possível para obter o máximo de informações. É do mais alto interesse do COI esclarecer este assunto”, disse o comitê, por meio de nota. COOPERAÇÃO Ex-atleta olímpico, Maleson afirmou que ainda mantém a cooperação com as autoridades francesas e que “há mais apurações em andamento”. “Mas eu não tenho autorização para fazer comentários. O que é importante é que o passo crucial foi dado. Essa é a oportunidade única de limpar o COB”, opinou. Foi ele que passou às autoridades a informação de que Nuzman tinha um passaporte russo, o que foi confirmado na busca e apreensão feita por policiais nesta terça (5). Como presidente de confederação, Maleson participou de assembleias do COB e esteve próximo da cúpula da entidade. Após os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, no entanto, a relação com Nuzman se esgarçou. Ele se tornou opositor do cartola-mor do esporte olímpico brasileiro. As desavenças eram públicas. Maleson, por exemplo, foi o único a declarar voto contrário na eleição de Nuzman para a presidência do COB em 2012. Também acusou o rival de ordenar uma invasão da sede da CBDG antes do referido pleito –o que o COB e Nuzman negaram. A confederação de esportes no gelo, sob Maleson, chegou a sofrer intervenção do comitê olímpico nacional por problemas administrativos. O agora delator já foi acusado de problemas em prestações de contas e gestão temerária. Hoje afastado do cenário esportivo nacional, Maleson mantém discurso de ataque. Critica o processo eleitoral e a falta de transparência nas contas do comitê nacional. “Nuzman transformou o COB em uma agência de organização de megaeventos. O comitê perdeu o papel de entidade sem fins lucrativos e de massificação no esporte no país e se transformou em um realizador de megaeventos. A partir daí, o Nuzman passou a tratar o COB como balcão de negócios dele, disse. “Uma coisa é certa. O COB, com a administração do Nuzman, não tem credibilidade nenhuma. Nem no Brasil nem lá fora.” Ele afirma que Nuzman deve pedir afastamento dos cargos que tem no COI, por exemplo: ele é membro honorário e integrante da comissão de coordenação dos Jogos de Tóquio-2020.