Titular de Tite, Alisson cogitou deixar a Roma para jogar a Copa do Mundo
A titularidade de Alisson, 24, na seleção brasileira era algo imaginável há três anos. Terceiro goleiro do Internacional, contou com a sorte para virar titular na reta final do Brasileiro de 2014 após a lesão do irmão Muriel e a expulsão de Dida. No ano seguinte, a sorte também esteve ao seu lado. Terceiro reserva da seleção nas eliminatórias, ele virou titular com Dunga após a falha de Jefferson na derrota para o Chile e a lesão de Marcelo Grohe. Com o apoio de Tite e o aval do preparador de goleiros Taffarel, Alisson agora se consolidou de vez com a camisa 1 da seleção brasileira, a dez meses do início da Copa do Mundo. Reserva na Roma na temporada passada –fez apenas 15 jogos pelo clube–, o goleiro afirmou que considerava normal ter seu posto de titular na seleção questionado, principalmente porque jogava pouco. Por isso, até cogitou deixar o time italiano após uma conversa com Tite. Ele queria atuar mais vezes. Acabou permanecendo após receber a confirmação de que teria mais oportunidades. “Não era minha preferência sair da Roma, mas se eu soubesse que não teria tanto espaço cogitaria sair. É o principal ano da minha carreira. Neste momento, tinha que pensar em mim, nos meus objetivos”, disse Alisson em entrevista à Folha. * Folha – O Tite pediu para você conversar com a diretoria da Roma para ter mais oportunidades para jogar? Alisson – A conversa foi de uma maneira bem natural. Como não estava jogando regularmente, o Tite me aconselhou a falar com a Roma para procurar um espaço e jogar mais, ter mais ritmo de jogo e desempenhar meu máximo. Conversei com o Monchi [Ramón Rodríguez Verdejo, diretor esportivo do clube italiano] e tudo ficou resolvido. Foi uma conversa boa sobre as expectativas que o clube tinha comigo para a temporada. Se permanecesse na reserva, cogitava deixar a Roma para continuar na seleção brasileira? Não era minha preferência sair da Roma, mas se eu soubesse que não teria tanto espaço cogitaria sair. É o principal ano da minha carreira. Neste momento, tinha que pensar em mim, nos meus objetivos. Depende agora do meu desempenho, de eu mostrar o meu futebol para continuar como titular. Por que jogou pouco na temporada passada? Foi uma opção do nosso ex-treinador [Luciano Spaletti]. Sou um cara muito tranquilo e não gosto de falar. Não me senti à vontade para conversar com ele. Ele optou por ter no elenco dois goleiros de alto nível e me colocava para jogar nas competições de copa. Ele usou a meritocracia porque o Szczesny [goleiro polonês titular da Roma no ano passado, negociado com a Juventus] teve um bom desempenho na temporada anterior. Foi um ano que aprendi bastante, um ano de ter paciência. Como você via os questionamentos por não ser titular no clube quando já era titular na seleção? A gente não vai conseguir agradar a todos. Algumas pessoas não tinham opinião a meu favor por eu não ter atuado em quantidade na temporada passada. Tendo mais oportunidade no clube, as pessoas vão conhecer melhor o meu trabalho. A opinião não entra em campo. Tenho que continuar atuando bem. Mesmo jogando pouco, tive um bom desempenho. Os números defensivos da seleção brasileira também provam isso. Vou dar o meu máximo para continuar com a camisa 1. Quem são os seus principais concorrentes na seleção brasileira? Todos estão jogando bem e podem ser convocados. Não temos um, dois, três nomes. Temos vários bons nomes hoje na posição. A concorrência é positiva. Ninguém tem cadeira cativa na seleção brasileira. Ninguém tem um lugar garantido na Copa do Mundo. Como é trabalhar com Taffarel? Ele é uma inspiração para você? Viemos da mesma casa [Internacional], da mesma escola que é a do Schneider [goleiro do clube na década de 1970]. Temos muito mais semelhanças que diferenças. Queria chegar aonde ele chegou. Conheci o Taffarel quando era mais jovem. Ele trata todos da mesma maneira. Tem me ajudado muito no dia a dia. Passou por momentos difíceis na carreira, assim como eu. Como o goleiro brasileiro é visto na Europa? Devido ao bom trabalho que nossos antecessores fizeram, como o Taffarel, o Dida, o Júlio César, tivemos mais oportunidades. Cada vez aumenta o reconhecimento pela nossa escola de goleiros. Temos goleiros com muito potencial. É muito diferente o trabalho de treinamento para goleiros na Itália comparado com o que é feito no Brasil? No Brasil fazemos trabalho voltado para explosão e potência. Somos goleiros rápidos. Na Itália, fazemos mais treinamentos técnicos, básicos de goleiro em termos de posicionamento. Juntando as duas escolas só tenho a ganhar. O Neuer, da Alemanha, ficou muito marcado por jogar bem com os pés. Acredita que é uma nova tendência dos goleiros? Cada um tem uma característica. Sempre gostei de participar do jogo. No Brasil, a torcida não gosta quando recua a bola para o goleiro e vaia. Depende da característica do time, do estilo de jogo. Como foi a disputa com o seu irmão Muriel pela titularidade no Internacional? Sempre acompanhava com meus pais os treinos do Muriel [30 anos] e queria seguir os passos do meu irmão mais velho. Eu gostava muito daquilo. Aconteceu o que não era provável por conta da idade e disputarmos a posição no Internacional. Ele teve o momento dele e, infelizmente, se machucou. Temos um relacionamento muito bom. Tiramos de letra essa briga pela titularidade. Foi muito mais difícil para nossos pais e amigos. Ele me ajudou muito a consolidar minha carreira no Internacional.