Renúncia à presidência da Síria foi ‘decisão pessoal’ de Assad, diz Kremlin

Regime de Assad caiu para ofensiva-relâmpago de rebeldes nesta final de semana. — Foto: Omar Albam/AP

Regime de Assad caiu para ofensiva-relâmpago de rebeldes nesta final de semana. — Foto: Omar Albam/AP

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta terça-feira (10) que a renúncia de Bashar al-Assad à presidência da Síria foi uma “decisão pessoal” do próprio ditador sírio, segundo a agência de notícias estatal russa RIA Novosti.

“A saída de Assad do exercício das funções de chefe de Estado é uma decisão pessoal dele. O restante não será comentado”, disse Peskov ao responder sobre o papel da Rússia na renúncia de Assad e sua possível chegada a Moscou.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é o maior aliado de Assad, e o ditador sírio mantinha sua dinastia de décadas no poder por conta de apoio de fortes aliados, como a Rússia e o Irã. Seu governo durou até o último final de semana, quando rebeldes tomaram a capital Damasco e Assad saiu do país em direção à Rússia. O Kremlin afirmou na segunda que o país concedeu asilo político ao agora ex-ditador, mas se recusa a confirmar sua presença em território russo. (Leia mais abaixo)

Peskov também disse que a Rússia continua dialogando com todos os países sobre as bases militares que o país tem na Síria.

Asilo político na Rússia

O Kremlin, sede do governo russo, afirmou na segunda-feira (9) que a Rússia concedeu asilo político a Bashar al-Assad, ditador sírio deposto neste final de semana. Segundo o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, a decisão para asilar Assad e sua família foi do presidente Vladimir Putin.

No entanto, o Kremlin se recusa a confirmar a presença de Assad na Rússia. “Quanto ao paradeiro do presidente Assad, não tenho nada para falar a vocês. O que aconteceu surpreendeu o mundo inteiro. Nós não somos exceção”, disse Peskov à imprensa.

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Retomada da guerra na Síria

O grupo rebelde jihadista HTS tomou a capital síria Damasco neste final de semana e derrubou o governo de Bashar al-Assad. O ditador se mantinha no poder com apoio militar de aliados como a Rússia e o Irã.

A guerra civil na Síria começou em 2011 e, nos últimos quatro anos, parecia estar adormecida. Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, o ditador conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah.

No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.

Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.

Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.

Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.

O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.

“Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país. Aleppo, sendo a segunda maior cidade da Síria, é o primeiro destino que eles ocuparam.”

Segundo o professor, o acirramento do conflito pode ter consequências em todo o Oriente Médio. Se Assad cair, afirma ele, isso pode criar um vácuo de poder e escalar ainda mais as guerras que envolvem Israel, Hamas, Hezbollah e Irã.