Apesar de pressão, curdos no Iraque votam em massa sobre independência

Ignorando a pressão de Bagdá e as ameaças do Irã e da Turquia, curdos compareceram em massa nesta segunda-feira (25) para votar no plebiscito sobre a independência do Curdistão iraquiano. Segundo a TV Rudaw, mais de 78% dos 5,2 milhões de eleitores curdos votaram. A região do norte do Iraque, conhecida como Governo Regional do Curdistão (GRC), conquistou autonomia em 1991. Os curdos agora pleiteiam independência total de Bagdá e enfrentam oposição não só do governo iraquiano, mas também de outros países como Turquia e Irã, onde há minorias curdas e temor de movimentos separatistas. Para Bagdá, uma secessão curda implicaria perda de território e de boa parte da produção de petróleo do país. Os curdos reivindicam várias áreas que foram conquistadas pelos soldados peshmerga durante o combate ao Estado Islâmico (EI). Entre elas está Kirkuk, cidade produtora de petróleo com população árabe, cristã e turcomena, contrária ao domínio curdo. O resultado da votação deve ser conhecido nos próximos dias e há expectativa de vitória do “sim” por ampla margem. O resultado da votação não é vinculante, mas deve ser usado pelo presidente do GRC, Massoud Barzani, para negociações com o governo central em Bagdá. O primeiro ministro do Iraque, Haider al-Abadi, afirmara no domingo (24) que o plebiscito “ameaça o Iraque” e “é um perigo para a região”. Poucas horas após o fechamento das urnas, o ministério de Defesa do Iraque iniciou exercícios militares “de grande escala” com a Turquia. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o país não reconhecerá os resultados do plebiscito e ameaçou cortar o acesso ao oleoduto que transporta o petróleo exportado pelos curdos para outros países. “Vamos ver como o GRC vai transportar seu petróleo e onde vai vendê-lo”, disse Erdogan. “Somos os donos da torneira. No momento em que fecharmos a torneira, acabou.” O Irã fez exercícios militares no domingo (24). À Folha, um embaixador de um país na região traduziu as preocupações das nações próximas: “Essa busca pela independência vai gerar instabilidade em vários países, grandes tensões étnicas entre árabes e curdos”, disse. Os curdos são o maior povo sem pátria do mundo —30 milhões espalhados por Turquia, Iraque, Síria e Irã. “Os curdos iraquianos querem controle sobre Kirkuk, que produz quase um terço do petróleo do Iraque, é inviável.” Os EUA, apesar de aliados dos curdos na luta contra o EI, condenaram o plebiscito.