Após sessão turbulenta com USDA e eleições nos EUA, soja fecha Chicago com forte baixa nesta 4ª
Na sessão desta quarta-feira (9), o mercado da soja na Bolsa de Chicago teve uma sessão intensa e de volatilidade após a chegada do resultado das eleições presidenciais nos EUA e do novo boletim mensal de oferta do USDA (Departamento de Agricultura do Estados Unidos). Os futuros da commodity, assim, encerraram o dia perdendo quase 20 pontos entre seus principais vencimentos.
Números do USDA
Nesse quadro, as posições mais próximas voltaram a deixar o patamar dos US$ 10,00 por bushel. As perdas se intensificaram durante a tarde, quando o departamento agrícola norte-americano trouxe seu reporte revisando a produção, a produtividade e os estoques do país para cima.
O aumento da safra já vinha sendo esperado pelos traders, porém, o volume agora estimado pelo USDA ficou acima da média das expectativas médias do mercado e pesou de forma significativa sobre as cotações. A estimativa passou de 116,8 milhões para 118,69 milhões de toneladas
Em contrapartida, as exportações norte-americanas também foram revisadas para cima, passando de 55,11 milhões para 52,53 milhões de toneladas. O volume de soja a ser esmagado, porém, caiu e passou de 53,07 milhões de toneladas, estimadas em outubro, para 52,53 milhões de toneladas.
E segundo explicam analistas e consultores internacionais, a baixa do processamento de soja nos EUA projetada no boletim se dá em função de uma perspectiva de redução nas exportações americanas de farelo. O USDA acredita que as vendas dos EUA alcancem, nesta temporada, 10,89 milhões de toneladas, enquanto a projeção em outubro era de 11,16 milhões de toneladas.
Assim, os estoques finais dos EUA também subiram no boletim desta quarta. A nova projeção é agora de 13,06 milhões de toneladas, contra as 10,75 milhões projetadas no relatório anterior. A expectativa média, nesse caso, era de 11,43 milhões de toneladas, e o número veio em linha com a máxima esperada.
Para Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, mais uma vez, foi bastante agressivo em suas projeções para a produção norte-americana, ao mesmo tempo que deixou bem claro seu conservadorismo nos números das exportações de soja do país. Os atuais números de vendas e embarques têm sido bastante expressivos nas últimas semanas e vinham indicando uma revisão mais expressiva.
Para o consultor, o mercado ainda tem espaço para trabalhar com algo entre US$ 10,00 e US$ 10,40 por bushel, com o potencial, especialmente da demanda. O consumo tem sido forte, as compras da China podem ficar acima do atualmente projetado e os preços, como ele explica, podem voltar a reagir.
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Mercado Financeiro e Dólar
O efeito da decisão dos eleitores norte-americanos de ter Donald Trump como seu presidente pelos próximos quatro anos trouxe intensidade aos movimentos do mercado financeiro e ainda mais volatilidade. A aversão ao risco ficou clara, porém, seu impacto parece ter sido pontual e os mercados, principalmente os agrícolas, passaram a obedecer seus fundamentos próprios.
Afinal, os impactos efetivos de Trump para a economia mundial, como explica o economista chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira, ainda são uma incógnita. “É preciso tentar entender o que vem o Trump. Essa é a grande dúvida. (…) É difícil mensurar qual vai ser o equilíbrio tanto do dólar local quanto internacional”, diz.
Ainda assim, o dólar fechou a sessão desta quarta-feira com alta de 1,5% e valendo R$ 3,2095. Na máxima dos negócios, porém, a moeda subiu mais de 2% e testou os R$ 3,25. Segundo informa a Reuters, nos quatro pregões anteriores, a divisa vinha acumulando uma baixa de 2,28% frente ao real.
“O mercado avaliou que é preciso um pouco mais de calma para entender o que vai acontecer. No final, o resultado das eleições acabou sendo menos doloroso (para o mercado) do que se esperava”, comentou o diretor de câmbio da Intercam Corretora de Câmbio, Jaime Ferreira à agência de notícias.
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Negócios no Brasil
Ainda segundo relata Brandalizze, o dia, apesar de toda a turbulência, trouxe oportunidades de negócios para os produtores brasileiros – com as cotações melhorando de R$ 1,00 a R$ 2,00 nos portos, principalmente com as operações da safra nova. No porto de Rio Grande, por exemplo, os negócios para julho chegaram a alcançar, durante o dia, referências de R$ 81,50 a R$ 82,00 por saca e os momentos foram aproveitados.
Por outro lado, no mercado disponível, as cotações mais uma vez recuaram em boa parte das praças de comercialização e mantêm as vendas em ritmo ainda lento. “Aqui dentro ainda temos bons lotes disponíveis, mais do que se esperava e os compradores e a indústria com baixa liquidez, reclamando das margens de esmagamento ruins”, explica Camilo Motter, analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais.