Avaliação genética dispensa abate para medir maciez de carne bovina
Produtores de gado e consumidores vão ganhar um novo indicador para avaliar a qualidade da carne que comercializam e compram. A ANCP (Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores) desenvolveu um índice para determinar a maciez da carne bovina em animais da raça nelore, sem necessidade de abate. Em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Cerrados, pesquisadores identificaram as características genéticas dos touros que definem uma carne mais ou menos macia. A partir dessas informações, criaram a DEP (Diferença Esperada na Progênie) para maciez (DMAC). As DEPs indicam a capacidade de o animal transmitir para seus descendentes genes que determinam certa característica. Quanto menor a DMAC, expressa em quilos, mais macia deve ser a carne do touro e de seus bezerros. “A raça nelore representa 80% do rebanho brasileiro, são 170 milhões de animais. O gado ser majoritariamente zebuíno traz vantagens, como adaptabilidade e resistência, mas a carne não é tão macia como a dos vizinhos Uruguai e Argentina. Com o novo recurso, a expectativa é até duplicar o valor em dólar do nosso gado”, diz Raysildo Lôbo, presidente da associação. A nova DEP pode ser usada para cruzar um touro “favorável” para maciez com uma vaca também favorável, “visando a que cada geração produza uma carne cada vez mais macia”, afirma Fernando Baldi, professor da Unesp e pesquisador associado da ANCP. Hoje, para avaliar a maciez, é necessário abater o animal. Depois, equipamentos simulam os dentes durante a mastigação para determinar a força de cisalhamento, que deve ser igual ou menor a 4,5 quilos para carnes macias. O processo, no entanto, é inviável economicamente para reprodutores de alto valor. Um animal com desempenho excepcional pode chegar a custar R$ 100 mil, de acordo com Ricardo Abreu, da empresa de melhoramento genético CRV Lagoa. Abreu ressalta que a maciez é um diferencial, mas a DMAC precisa ser combinada com outras DEPs. “Não adianta o touro ter o gene de maciez e não ser ganhador de peso”, afirma. O próximo passo, segundo Baldi, é convencer a indústria frigorífica a diferenciar o produto na gôndola. “Vamos gerar um selo de qualidade, para identificar os animais com carne macia”, completa Lôbo.