China compra mais 926 mil t de soja nos EUA, mas Chicago não reage

A China comprou mais 926 mil toneladas de soja dos Estados Unidos nesta segunda-feira (11), segundo um reporte feito pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Este é o segundo anúncio oficial da instituição em menos de uma semana – outra venda foi reportada na última sexta (8), de 664 mil toneladas – e mostra que há ainda alguma boa vontade dos chineses em cumprir promessas noticiadas nas últimas semanas, como a de adquirir ao menos 10 milhões de toneladas da oleaginosa americana e a de, enfim, firmar um acordo com os EUA e botar fim na guerra comercial.
A notícia vem também para amenizar a da semana passada de que Donald Trump e Xi Jinping adiaram seu encontro em Mar-a-Lago, na Flórida, previsto para ocorrer entre 27 e 28 de março, onde poderiam assinar o acordo. “Esse (a venda dos EUA) é um bom indicativo de que passos estão sendo dados em direção ao fim da guerra. A reconciliação está atrasada? Sim! Porém, já era de se esperar em se tratando de um assunto tão complexo”, diz Matheus Pereira, analista de mercado da ARC Mercosul.
Enquanto isso, a situação de incerteza e a descrença do mercado causada pelo cansaço diante de informações que não se confirmam faz com que a reação à notícias como estas de compras pontuais da China não aconteça. Na Bolsa de Chicago, mesmo depois do anúncio, os futuros da soja permaneciam em baixa, com o maio operando abaixo de US$ 9,00 por bushel e o julho lutando para se manter neste patamar.
“A China ainda não cortou a tarifação da soja americana e isso ainda pesa. Os problemas estão nos detalhes”, explica o consultor Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. “Se eles retirarem essa tarifa, como pediu Trump, qual será a contrapartida que irão receber?”, completa o executivo, explicando que até que esta questão seja respondida, nada muda.

O contexto político se aprofunda cada vez mais, principalmente na relação entre o presidente Donald Trump e as relações com uma grande parte de seu eleitorado, composta pelos estados do Corn Belt.
“Os produtores ainda não estão fazendo pressão sobre Trump, mas no ano que vem temos eleições e ele já anunciou que irá buscar sua reeleição. Então, está com um problema político bastante sério”, explica o consultor da Terra.
Não há grandes soluções no curto prazo, acredita Fernandes. Para ele, um acordo – caso saia efetivamente – ainda leva um tempo considerável, podendo acontecer somente em meados de maio ou junho. E é nesse período que o mercado pode voltar a encontrar alguma volatilidade novamente, começando a se focar na questão climática norte-americana para a nova safra.
Desde agosto, o contrato maio segue “congelado”, ainda segundo o analista, no intervalo de US$ 8,80 a US$ 9,50 por bushel e é assim que deverá permanecer diante da falta de informações que possam mudar a direção das cotações. Até lá, Chicago permanece lateralizado, sem grandes mudanças.
“O próximo ‘pico’ de volatilidade que o mercado teria, mas sem grandes alterações, poderia ser na divulgação dos números oficiais de plantio da nova safra dos EUA, no final deste mês, mas só uma séria questão climática poderia mudar o mercado”, diz Ênio Fernandes.