Clubes resistem a proposta da CBF para auxílio de vídeo no Brasileiro
A abrupta decisão do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, de acionar os árbitros de vídeo em meio à disputa do Brasileiro enfrenta resistência de clubes da Série A. Levantamento feito pela Folha sobre a introdução do recurso eletrônico no futebol brasileiro mostra que há unidade em torno da ajuda tecnológica aos árbitros. Porém, a maioria dos clubes (13) rejeita a implantação se a novidade ficar restrita apenas a algumas partidas determinadas pela CBF, como a entidade avalia e o regulamento geral de competições permite. Há discordância também pela instauração com o campeonato em andamento -já foram disputadas 24 das 38 rodadas do Brasileiro. Ao mesmo tempo há questionamentos sobre quem arcaria com os custos da nova operação. De acordo com o chefe de arbitragem da CBF, Marcos Marinho, o investimento será de R$ 30 mil por jogo. A entidade ainda não informou quem bancaria o acréscimo à conta. Atlético-PR, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Corinthians, Coritiba, Fluminense, Grêmio, Palmeiras, Ponte Preta, Santos, Sport e Vitória estão entre os descontentes ou reticentes com as condições apresentadas pela CBF. Apenas Chapecoense e Vasco se dizem confortáveis com qualquer que seja a decisão tomada pela CBF, enquanto Bahia, Cruzeiro e Flamengo aguardam detalhes por parte da confederação. Botafogo e São Paulo não se manifestaram até o fechamento desta edição. O artigo 75 do regulamento geral de competições da CBF permite que o sistema seja usado somente em alguns jogos. Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras, defende o uso da tecnologia a partir da próxima rodada, desde que atendendo a todos os clubes. “É preciso que as regras sejam seguidas em todas as partidas e em todos estádios.” Vice-presidente do Atlético-GO, Adson Batista é outro que pede uniformidade a partir da adoção da análise de vídeo. “É um campeonato de pontos corridos e todos têm o mesmo valor”, disse. Para Gustavo Bueno, gerente de futebol da Ponte, o planejamento deveria ser feito para o início da competição. “Cabe a adaptação dos clubes e da entidade esportiva para que isso aconteça”, disse. “Sou contra ter apenas em alguns jogos. É como o exame antidoping. Tem que padronizar, com tempo.” A diretoria executiva do Atlético-PR, em nota, questiona a falta de diálogo para botar em prática uma mudança tão significativa. “Trata-se de uma imposição, sem nenhuma experiência anterior.” TESTE COM DÚVIDA Até agora apenas dois jogos oficiais tiveram o uso do recurso de vídeo no Brasil. A tecnologia foi empregada na final do Pernambucano, entre Sport e Salgueiro, em maio. Na segunda partida, em Salgueiro, houve reclamações, após gol anulado dos anfitriões. O assistente Emerson Augusto de Carvalho sinalizou que a bola teria ultrapassado a linha de fundo em cobrança de escanteio. Péricles Bassols, árbitro treinado pela CBF para avaliar o vídeo, confirmou a anulação. Imagens da TV, porém, levantaram dúvida sobre a decisão. Para Arnaldo Barros, presidente do campeão Sport, a preparação não foi apropriada. “A câmera não ficou posicionada da forma adequada. Também não houve treinamento adequado dos árbitros.” EXPERIÊNCIAS DE USO DO ÁRBITRO DE VÍDEO > Mundial de Clubes-2016 Realizada no Japão, competição marcou a estreia do árbitro de vídeo > Copa das Confederações A tecnologia foi testada em todos os jogos do torneio do ano passado, na Rússia > Mundial sub-20 O campeonato, realizado na Coreia do Sul entre maio e junho, contou com o sistema em todas as partida > Pernambucano Árbitro de vídeo foi utilizado nas duas partidas da final do Estadual > Libertadores Conmebol decidiu na semana passada usar a tecnologia na semifinal e na final > Alemanha Testes começaram há dois anos. Tecnologia foi implementada oficialmente nesta temporada > França x Espanha Amistoso realizado em março teve a utilização do árbitro de vídeo > Italiano Árbitro de vídeo começou a ser utilizado nesta temporada > Portugal Foi utilizado pela primeira vez na final da Copa de Portugal, realizada entre Benfica x Vitória de Guimarães em maio > Espanha Será testado na edição deste ano da Copa do Rei – CRONOLOGIA Setembro de 2015 CBF pede à Fifa para usar vídeos em lances duvidosos da arbitragem. Seis dias depois, a Internacional Board, órgão responsável pelas regras do futebol, veta pedido feito pela entidade brasileira Fevereiro de 2016 Fifa libera cinco países para utilizar o árbitro de vídeo: Brasil, Austrália, Alemanha, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos. Após a liberação, CBF diz que pretende utilizar o sistema em agosto, porém, não coloca em prática Dezembro de 2016 Árbitro de vídeo é utilizado pela primeira vez no Mundial de Clubes, realizado no Japão. Experiência apresentou demora nas decisões e gerou reclamações. Sistema é repetido no Mundial sub-20, na Copa das Confederações e em campeonatos europeus Fevereiro de 2017 Custo de R$ 20 milhões somente para arcar com aspectos operacionais faz CBF mudar sua programação para utilizar o árbitro de vídeo para 2018. Com a decisão, entidade opta por árbitros adicionais no Brasileiro Maio de 2017 A tecnologia é usada pela primeira vez no país na final entre Sport e Salgueiro, pelo Campeonato Pernambucano. Mesmo em estádio acanhado, sistema é utilizado na partida de volta Setembro de 2017 Coronel Marcos Marinho, chefe da comissão de arbitragem, diz que sistema ficará para 2019. Após erro de árbitro em jogo do Corinthians e interferência de Del Nero, planos são alterados e árbitro de vídeo já será utilizado na edição deste ano do Campeonato Brasileiro