Com campanha e temor por azar, Argentina tenta evitar vexame

A Argentina entra no estádio do Boca Juniors, a Bombonera, nesta quinta-feira (5), para espantar o clima de “mufa” (palavra do lunfardo que quer dizer desgraça, má-sorte) que se instalou após uma série de derrotas e empates deixarem a seleção em quinto lugar nas eliminatórias, com risco de ficar fora da Copa da Rússia, em 2018. “Depois de termos perdido três finais (Copa do Mundo do Brasil em 2014, Copa América de 2015 e a Copa América Centenário de 2016), o time está traumatizado e abatido, como quem carrega uma mochila cheia de frustrações”, diz à Folha o cronista esportivo Ezequiel Fernández Moores. “Talvez precisem mais de um psicanalista do que de um técnico”, completa, rindo. O jogo contra o Peru é o assunto nacional. Há campanhas publicitárias, vídeos de estímulo nas redes sociais, mesas-redondas para avaliar cada jogador e as chances do time, além da batalha para comprar as entradas. A Argentina ainda depende só de si mesma, mas precisa ganhar as últimas duas partidas das eliminatórias. Depois do Peru, enfrenta o Equador, no dia 10, em Quito, que está a 2,8 metros acima do nível do mar. Caso perca uma delas, dependerá de uma combinação de resultados ou irá para a repescagem. SUPERSTIÇÃO Os supersticiosos não deixam de lembrar a coincidência que este momento guarda com um infortúnio do passado. Na última vez em que a Argentina ficou fora de uma Copa, a de 1970, foi após empatar com o Peru, na Bombonera, nas eliminatórias, em 1969, ou seja, com o mesmo adversário e no mesmo estádio desta quinta. Outras curiosidades perturbadoras também rondam a partida. Em 1985, a Argentina conseguiu sua classificação a duras penas. O gol que a levou à Copa de 1986 foi de Ricardo Gareca, também contra o Peru. Mas, apesar de ter sido o herói daquelas eliminatórias, Gareca não foi convocado para o time que venceria o Mundial do ano seguinte, liderado por Diego Maradona. Pois, adivinhe quem é o treinador da seleção do Peru hoje? Justamente Ricardo Gareca. Buscará uma vingança? Indagado pela imprensa argentina, Gareca respondeu que seus sentimentos com relação à seleção de seu país não estarão em campo, e que encara o desafio de forma profissional. Outro que vem sendo questionado é o técnico argentino, Jorge Sampaoli. Ex-treinador da seleção do Chile, chegou a Buenos Aires quando a seleção já vinha em má situação, em julho. Sampaoli também sofre certa rejeição por ter sido o técnico do Chile quando este venceu a Copa América de 2015, contra a Argentina. “Isso pesa quando ele traz um jogador novo que não se encaixa ou quando a equipe não sabe reagir diante de resultado ruim”, comenta Moores. Já Messi anda com ares de contrariado. Após ter anunciado que deixaria a seleção em 2016, depois da derrota na Copa América Centenário, o craque do Barcelona acabou voltando. Está, porém, com a cara amarrada e voltou a ser criticado por não se mostrar “suficientemente argentino”, pelo fato de ter passado mais tempo de sua vida na Espanha. A “mufa” parece rondá-lo. De todo modo, é a melhor carta que os argentinos têm para chegar à Copa. ELIMINATÓRIAS PARA RÚSSIA – Vagas NO ATAQUE A surpresa da seleção para enfrentar o Peru pode ser a escalação de Darío Benedetto, ídolo do Boca Juniors, para o ataque. Ele disputa vaga com Mauro Icardi, que não foi bem nas partidas anteriores das eliminatórias, contra Uruguai e Venezuela. Benedetto seria mais uma cartada de Sampaoli para ganhar apoio da torcida do Boca, a maior do país, e pressionar ainda mais no Peru. No estádio escolhido para o jogo, a torcida fica mais próxima dos jogadores do que no Monumental, casa do River Plate, onde geralmente atua a seleção argentina. NA TV Argentina x Peru 20h30 – SporTV