Com oposição fragilizada, premiê do Japão antecipa eleições

O premiê japonês, Shinzo Abe, anunciou nesta segunda-feira (25) que convocará eleições parlamentares antecipadas para a câmara baixa do Parlamento do Japão, que detém poderes legislativos mais amplos. A eleição foi convocada para 22 de outubro. Abe anunciou que dissolverá a câmara baixa do Parlamento, formada por 475 legisladores, na quinta-feira (28), quando termina um recesso parlamentar de três meses. O apoio do eleitorado ao governo Abe começou a se recuperar depois que os ataques políticos contra ele devido a escândalos se dissiparam durante o recesso. Além disso, os partidos oposicionistas estão se reorganizando e parecem despreparados para uma eleição. Legisladores oposicionistas afirmaram que não existe motivo para realizar uma eleição agora. Abe disse que estava em busca de mandato popular para seus planos de usar novas receitas tributárias para a educação e cuidados com os idosos, e para sua política de defesa com relação à ameaça cada vez mais grave dos mísseis e armas nucleares da Coreia do Norte, afirmando que a situação significa uma crise nacional. “Enfrentarei a crise nacional com minha forte liderança”, disse Abe. “Antecipo que as críticas da oposição se concentrarão [nos escândalos], e a eleição será muito difícil”, afirmou. Abe anunciou que renunciará como premiê caso o Partido Liberal Democrata, que ele lidera, não obtenha a maioria, ou pelo menos os 233 assentos de que precisa para manter o poder. Analistas acreditam que o partido de Abe irá manter a maioria simples, mas que pode perder a maioria de dois terços dos assentos que mantém no momento em companhia de seu parceiro de coalizão, o partido Komei. Ainda assim, uma vitória por boa margem pode ajudar o premiê a firmar seu controle do poder. O mandato de três anos de Abe como líder de seu partido termina em setembro do ano que vem, e ele terá de enfrentar desafiantes dentro do Partido Liberal Democrata para se manter como premiê. “Para Abe, a hora é agora. Ele está tirando vantagem do despreparo dos partidos de posição e buscando prolongar sua liderança”, disse o professor de política na Universidade de Tóquio Yu Uchiyama. Os índices de apoio ao Partido Liberal Democrata caíram para menos de 30% em julho, depois de questionamentos seguidos no Parlamento sobre acusações de que Abe teria ajudado um amigo a obter licença para uma faculdade de veterinária. Recentes pesquisas de opinião pública demonstram que o apoio ao partido de Abe retornou aos 50%, ajudado pelo recesso parlamentar e por uma reforma ministerial em agosto que resultou na demissão do ministro da Defesa e de outros ministros impopulares. Uma pesquisa conduzida pelo jornal “Nikkei” e publicada na segunda-feira mostra que 44% dos entrevistados pretendem votar no partido de Abe na eleição, e que apenas 8% pretendem votar em dois partidos oposicionistas. Isso representa virada significativa ante a situação que existia em junho, quando o Partido Liberal Democrata sofreu uma derrota devastadora, em uma eleição para o Legislativo municipal de Tóquio, diante do novo partido regional criado por Yuriko Koike, governadora de Tóquio e líder política independente. Os legisladores da oposição estão correndo para se reorganizar. Na manhã de segunda-feira, Koike anunciou o lançamento de um novo partido nacional que ela liderará, ainda que deva manter seu posto como governadora, concentrando seus esforços em preparar a capital para receber a Olimpíada de 2020 e em outras questões. Ela disse que seu Partido da Esperança será conservador e pressionará por transparência no governo, pelo avanço das mulheres, eliminação da energia nuclear e outras reformas. Diversos legisladores, entre os quais membros do Partido Democrata, a principal força oposicionista japonesa, anunciaram sua intenção de aderir ao novo partido. “Essa será uma nova força formada por legisladores que desejam reformas e desejam promover o conservadorismo”, disse Koike. “Vamos criar um Japão no qual haja esperança para todos de que o amanhã será certamente melhor que hoje”. Os democratas, que estiveram no poder entre 2009 e 2012, perderam terreno principalmente devido a desacordos internos. Tradução de PAULO MIGLIACCI