Dólar abre em queda e vai aos R$ 6,05, em dia de mais US$ 7 bilhões em leilões do BC

Campos Neto vê saída extraordinária de dólares no fim do ano e diz que BC ‘vai atuar se for necessário’

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O dólar opera em queda nesta sexta-feira (20), na casa dos R$ 6,07, já de olho em mais dois leilões de dólar que serão realizados pelo Banco Central do Brasil (BC) para aumentar a oferta da moeda no país e conter a desvalorização do real.

Nesta sexta, o BC coloca mais US$ 7 bilhões à venda. Serão US$ 4 bilhões em leilão de linha (aquele em que o valor será recomprado pelo BC no futuro) e mais US$ 3 bilhões em leilão à vista (em que o valor não volta para o caixa da instituição). Na mínima do dia, o dólar chegou aos R$ 6,05.

O mercado contina de olho também no pacote de corte de gastos, com a tramitação dos projetos do governo federal no Congresso Nacional. Investidores acompanham de perto o desenrolar das propostas.

Há um temor de que as medidas anunciadas não sejam suficientes para equilibrar as contas públicas e conter o avanço das despesas do governo. Já houve uma “desidratação” de algumas medidas — ou seja, pontos foram alterados e podem conter as despesas públicas em patamar menor que o esperado.

O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, opera em queda.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar abre em queda nesta sexta (20); Daniel Sousa comenta

Dólar abre em queda nesta sexta (20); Daniel Sousa comenta

Às 11h15, o dólar operava em queda de 0,73%, cotado a R$ 6,0767. Na mínima, chegou a R$ 6,0515. Veja mais cotações.

Na véspera, a moeda norte-americana teve queda de 2,32%, cotado a R$ 6,1216.

Com o resultado, acumulou:

  • ganhos de 1,44% na semana;
  • alta de 2,02% no mês;
  • avanço de 26,15% no ano.

No mesmo horário, o Ibovespa opera em alta de 0,16%, aos 121.334 pontos.

Na véspera, o índice teve alta de 0,34%, aos 121.188 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • queda de 2,75% na semana;
  • perda de 3,56% no mês;
  • recuo de 9,69% no ano.

Banco Central faz maior intervenção no mercado câmbio em 25 anos

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O que está mexendo com os mercados?

O pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal continua andando no Congresso. A ideia inicial era economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030.

A PEC foi desidratada na Câmara. Os deputados mexeram em pontos que diminuem o impacto do corte de gastos. Os senadores mantiveram praticamente o mesmo texto da Câmara. So tiraram a possibilidade de o governo usar recursos do Fundeb para pagar merenda escolar. Veja o que muda com a PEC.

Na Câmara dos Deputados, foi aprovado também um projeto que adia o abatimento de bancos, no cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquida (CSLL), das perdas com empréstimos inadimplentes. O texto vai ao Senado.

A medida, segundo o Ministério da Fazenda, deve gerar uma arrecadação superior a R$ 16 bilhões em 2025. O projeto aprovado pela Câmara repete o teor de uma medida provisória, editada pelo presidente Lula (PT) em outubro, que está em vigor e perderá a validade em março do próximo ano. Saiba mais aqui.

Além disso, quando o governo registrar déficit primário (situação em que as despesas são maiores que o dinheiro arrecadado), a proposta aprovada ativa um “gatilho” que limita o aumento de gastos do governo com pessoal.

O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.

O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.

Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.

Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.

Os aliados de Haddad acreditam que a aprovação do pacote já enviado ao Congresso vai ajudar a acalmar os ânimos dos investidores, mas as medidas não serão suficientes para derrubar o dólar.

'A gente sabe que há um problema fiscal', diz Daniel Sousa sobre alta do dólar

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Reflexos da decisão do Fed

Nos EUA, o principal dado desta sexta-feira é o índice de preços PCE, que aumentou 0,1% no mês passado, após um avanço não revisado de 0,2% em outubro.

No período de 12 meses até novembro, o índice de preços PCE avançou 2,4%, após alta de 2,3% em outubro. O aumento na taxa de inflação anual deveu-se em parte ao fato de as leituras baixas do ano passado terem sido excluídas do cálculo.

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o PCE subiu 0,1%. Nos 12 meses até novembro, o chamado núcleo da inflação aumentou 2,8%, depois de avançar pela mesma margem em outubro.

“O PCE veio um pouco abaixo do esperado pelo mercado, confirmando um número benigno da inflação em novembro, após alguns meses de dados ruins que voltaram a preocupar”, diz Andressa Durão, economista do ASA.

“Será importante observar os próximos meses para avaliar se houve mudança na dinâmica da inflação antes de possíveis tarifas do novo governo, que adicionam riscos e já preocupam algumas autoridades do Fed.”

Esse foi o terceiro corte seguido da taxa. Na reunião de novembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) reduziu o referencial na mesma proporção, em 0,25 p.p., enquanto na reunião de setembro o corte foi de 0,50 ponto.

Em nota, o Fomc afirma que os indicadores econômicos dos EUA sugerem que a atividade econômica do país continuou a se expandir em ritmo sólido, mas com os riscos controlados.

“Desde o início do ano, as condições do mercado de trabalho se suavizaram, e a taxa de desemprego aumentou, mas permanece baixa. A inflação avançou em direção à meta de 2% do Comitê, mas ainda está um pouco elevada”, diz o texto.

Essa foi a segunda reunião do Fomc após as eleições presidenciais norte-americanas, que voltaram a colocar o republicano Donald Trump como chefe de Estado da maior economia do mundo.

A nota do Fomc diz ainda que o comitê julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados, mas que as perspectivas econômicas são incertas, e o Comitê está atento aos riscos.

“O Comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária, conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas do Comitê”, diz.

Diante desse cenário, a leitura é de que a incerteza sobre quais serão os efeitos da gestão de Trump na economia dos Estados Unidos também podem afetar as decisões do Fed à frente.

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos já era precificada pelo mercado, mas aumentou as preocupações sobre os efeitos da agenda econômica conservadora e protecionista que o republicano deve carregar durante seu mandato.

Essas medidas são vistas como inflacionárias pelo mercado e podem — além de trazer impactos para a economia de outros países — obrigar o Fed a manter os juros elevados para conter um eventual aumento de preços.

Juros menores nos Estados Unidos podem ser positivos para o Brasil. Isso porque, com taxas menores, os títulos públicos do país (considerados os mais seguros do mundo) passam a entregar uma rentabilidade também menor.

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