Dólar tem queda no dia, mas fecha 2024 com alta de 27%, a R$ 6,17; Ibovespa recua 10% no ano

Notas de dólar. — Foto: Murad Sezer/ Reuters

Notas de dólar. — Foto: Murad Sezer/ Reuters

O dólar fechou em queda nesta segunda-feira (30), a R$ 6,1797, depois de uma nova intervenção do Banco Central do Brasil (BC). O resultado do último pregão do ano, no entanto, não foi suficiente para amenizar o avanço da moeda em 2024, que fechou com uma alta acumulada de 27,35%.

SAIBA MAIS:

O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.

Em termos simples, os receios do mercado financeiro em relação às contas públicas se refletem no dólar da seguinte forma:

  1. Sem cortar gastos, o país tem uma perspectiva menor de controle da dívida pública;
  2. Um país mais endividado tem uma probabilidade maior de não cumprir com seus compromissos financeiros, e se torna mais arriscado;
  3. Um país mais arriscado só se torna atrativo se pagar juros mais altos pelos títulos;
  4. Com países mais seguros pagando juros mais altos no exterior, o Brasil fica menos atrativo;
  5. Se o Brasil está pouco atrativo, os investidores tiram dólares do país, enfraquecendo o real.

O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, foi impactado pelo mesmo cenário. O índice ficou estável nesta segunda, mas registrou perdas de 10,36% no acumulado do ano.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar acumula alta de quase 28% em 2024

Dólar acumula alta de quase 28% em 2024

O dólar recuou 0,22% nesta segunda, cotado a R$ 6,1797. Na máxima do dia chegou a R$ 6,2422. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 2,99% no mês;
  • avanço de 27,35% no ano.

Na última sexta-feira (27), a moeda norte-americana fechou em alta de 0,26%, cotado a R$ 6,1932.

O Ibovespa avançou 0,01% nesta segunda, aos 120.283 pontos. Na máxima do dia, chegou a 121.050 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • perda de 4,28% no mês;
  • recuo de 10,36% no ano.

Na sexta, o índice encerrou em baixa de 0,67%, aos 120.269 pontos.

Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair

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O que está mexendo com os mercados?

Neste fim de ano, o mercado seguiu repercutindo o quadro fiscal do país. Há duas semanas, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.

A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.

Em café da manhã com jornalistas, no último dia 20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.

“Fala-se em ‘desidratação’, mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver ‘hidratação’ [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo”, afirmou Haddad.

O mercado, porém, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.

“Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, diz um relatório da empresa.

O governo precisa reduzir os gastos para atingir a meta de zerar o déficit público. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.

O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.

Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.

Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.

Como foi o último pregão do ano

A moeda norte-americana oscilou durante a manhã desta segunda, mas passou a subir e bateu os R$ 6,24 no início da tarde. O BC, então, realizou um leilão de dólares para conter a alta, com a venda de US$ 1,815 bilhão à vista.

Os leilões do Banco Central são uma ferramenta de regulação do mercado de câmbio e servem para aumentar a oferta da moeda norte-americana disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair.

Apesar de negativo, o resultado representa uma melhora em relação ao mesmo mês de 2023, quando o déficit foi de R$ 37,3 bilhões. Os números englobam o governo federal, os estados, municípios e as empresas estatais.

Com esses números, a estimativa é que as estatais terão o pior resultado contábil em toda a série histórica, iniciada há 15 anos.

*Com informações da agência de notícias Reuters