Em peça, poesia de Maiakóvski se apoia em grande dupla de atores

A PLENOS PULMÕES (BOM) QUANDO sex., sáb. e seg., às 20h; dom., às 19h; até 18/9 ONDE Centro Cultural Banco do Brasil – teatro (3º andar), r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651 QUANTO R$ 20 CLASSIFICAÇÃO 12 anos – Provocação e vigor dão o tom de “A Plenos Pulmões”, espetáculo que celebra o poeta moderno Vladimir Maiakóvski (1893-1930) no ano em que se celebra o centenário da Revolução Russa. A grandeza dos atores é responsável por essa energia que preenche o palco, espaço vazio que se povoa de palavras em uma encenação simples. O ponto de partida pode parecer ingrato: como, da poesia, fazer teatro? A proposta da diretora Marcia Abujamra é conduzir o público pela obra do “poeta da Revolução” –título que recebeu depois de sua morte– a partir de sua cronologia de vida, decorrida nos anos turbulentos da Rússia em ebulição. Sem os atores Luciano Chirolli e Georgette Fadel, a empreitada arriscaria falhar. Mas Chirolli, o poeta, e Fadel, alternadamente as amantes, a leitora, a opinião pública e a narradora da peça, defendem os poemas com o ardor que os versos irradiam, talvez movidos pela esperança que a própria figura histórica depositava no ideal da revolução proletária. DESPREZO São de fato arrebatadores os textos selecionados para o espetáculo, entre eles “Conversa sobre Poesia com o Fiscal de Rendas”, que reitera o status de trabalhador do poeta: “A poesia é como a lavra do rádio/ –um ano para cada grama./ Para extrair uma palavra,/ milhões de toneladas de palavra-prima”. A cena em torno de “A Siérguei Iessiênin” é um dos momentos em que obra, vida e contexto histórico se irmanam no roteiro da peça; o suicídio de Iessiênin, que inquieta Maiakóvski, aponta também para seu próprio fim, em 1930, com um tiro no peito. A morte foi apressada pelo desprezo que o grande poeta sofria do próprio sistema que ajudara a alavancar. Não é apenas o entusiasmo dos atores que alavanca o espetáculo. A sintonia entre eles, o jogo que estabelecem, imprime alguma nuance ao personagem: o poeta desafiador, que encarna o espírito moderno ao declamar seus poemas apontados para o futuro, encontra calor e humanidade na interlocutora que orbita em torno dele. No entanto, não escapa do verniz heroico que “A Plenos Pulmões” propõe. A dupla quebra pontualmente a sequência de diálogos, explanações e poemas interagindo com o cenário, que, entre outros usos, remete aos cartazes que Maiakóvski também produziu para a propaganda soviética. Mas a peça se apoia essencialmente na declamação, a que a linguagem coloquial dos versos do poeta serve tão bem.