Empresariado alemão adverte sobre incerteza ‘tóxica’ após eleição

Líderes empresariais alemães deram o alarme sobre o escorregão à direita do país e o risco de incerteza política “tóxica”, advertindo que o sucesso do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições gerais de domingo (24) poderá afastar investidores estrangeiros. Dieter Kempf, o presidente da Federação de Indústrias Alemãs (BDI), disse que as posições adotadas pela AfD durante a campanha “não seriam vistas como um convite pelos investidores estrangeiros” e que o partido já prejudicou a imagem do país no exterior. Ele disse à rádio alemã na terça-feira (26) que o programa da AfD marca “um recuo no tempo e um recuo para o plano nacional”. As empresas têm de deixar claro que as “conexões globalizadas” da Alemanha são exatamente o que tornou a economia forte, disse Kempf. “Acreditamos que as posições da AfD estão simplesmente erradas”, acrescentou ele. A intervenção de Kempf é a última advertência dos líderes empresariais sobre o tumulto político provocado pela eleição. A chanceler Angela Merkel e seu bloco conservador CDU/CSU sofreram uma queda acentuada de apoio popular e enfrentam a árdua tarefa de formar um governo de coalizão amplo, mas díspar, com o Partido Verde e os Democratas Livres, de centro. A grande vencedora nas urnas foi a AfD, um partido anti-imigrantes que pede o desmonte da zona do euro. Ele ganhou perto de 13% dos votos, o que o torna o terceiro maior bloco no Parlamento. Falando nesta semana, o chefe da Volkswagen, Matthias Müller, descreveu a AfD como “de extrema-direita e contra os estrangeiros”, e seu sucesso como “chocante”. Joe Kaeser, executivo-chefe da Siemens, disse que a forte votação no partido foi uma “derrota para as elites da Alemanha”. Eric Schweitzer, presidente da Câmara de Comércio alemã, advertiu na segunda-feira que as empresas “não podem de modo algum” aceitar um clima contrário aos estrangeiros. Mas o sucesso da AfD é apenas um entre vários desafios políticos para os líderes empresariais. Analistas e autoridades esperam uma longa rodada de negociações para formar uma nova coalizão, que poderá durar vários meses. “Os impasses são tóxicos para a economia”, disse Kempf. “Se houver insegurança e falta de visibilidade, ninguém investirá, especialmente no Mittelstand [empresas de médio porte].” Outra preocupação provavelmente será o possível envolvimento dos verdes em um futuro governo Merkel. Apesar de o partido ter perdido grande parte de seu legado radical, continua defendendo posições em áreas como energia e transportes que vão contra as adotadas por setores chaves. Entre outras coisas, os verdes querem acelerar o desligamento paulatino das usinas movidas a carvão e obrigar a indústria de automóveis a mudar a produção de veículos com motores a combustão interna para carros elétricos. A Federação Automobilística da Alemanha, VDA, disse na terça-feira: “Está claro que os motores a combustão interna continuarão tendo um papel importante para a mobilidade durante muitas décadas ainda –juntamente com outras tecnologias. Os motores a combustão interna modernos financiam o presente e o futuro dos automóveis. Essa conexão deve ser levada em consideração por todos”. A VDA pediu que os líderes políticos criem uma “estrutura amiga da inovação” e evitem “proibições”. Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES