Estação da Leopoldina, fechada desde 2001, hoje é só uma fachada pichada

RIO DE JANEIRO – Na pequena história das rivalidades cariocas –Flamengo e Fluminense, Cacique de Ramos e Bafo da Onça, Colégio Militar e Pedro 2º, pizzaria Guanabara e Real Astoria e, atualizando, Anitta e Ludmilla– havia aquela entre os dois ramais ferroviários: um morador de Madureira não topava o morador da Penha, porque o primeiro era um subúrbio da Central e o segundo, da Leopoldina. Para motivar a disputa, criou-se até uma teoria musical (furada, aliás): a turma da Central era bamba na percussão do samba (Paulo da Portela, por exemplo), enquanto a da Leopoldina se destacava nos metais do choro (Pixinguinha, que era de Ramos). Pois essa rixa quase centenária pode estar com os dias contados. O prédio da Central do Brasil, arranha-céu com 20 andares sem contar a torre do relógio, erguido nos anos 1930, continua lá, feio e mussoliniano. O da estação Barão de Mauá, seu rival, está desmilinguindo. Fechado para o transporte de passageiros desde 2001, virou uma fachada pichada. A marquise externa ameaça cair. Inaugurada em 1926, a estação da Leopoldina é um projeto do arquiteto Robert Prentice inspirado em construções palacianas inglesas, com o interior do grande salão dominado por uma abóbada de fina estrutura metálica. Não à toa, nos recentes anos de ocaso, recebeu festas particulares e serviu como cenário para ensaios fotográficos. Também abrigou, numa triste ironia, um estacionamento de carros. Três são os culpados pela ruína: Estado do Rio de Janeiro, União e SuperVia, que, num jogo de empurra, brigam na Justiça para decidir quem deve arcar com a restauração do imóvel tombado. Políticos e tecnocratas devem se perguntar: reformar para quê? Em Paris, o badalado Museu D’Orsay funciona numa antiga estação. A Leopoldina parece fadada a viver apenas na memória dos pingentes suburbanos.