Estados Unidos enviarão US$ 32 mi em ajuda humanitária a rohingyas
O Departamento de Estado dos EUA anunciou nesta quarta-feira (20) que irá doar 32 milhões de dólares para fornecer alimentos, tratamento médico, água, saneamento básico e abrigo aos mais de 421 mil rohingyas que fugiram para Bangladesh desde o fim de agosto. Com a medida, os Estados Unidos endossam as críticas da comunidade internacional sobre o tratamento da minoria muçulmana em Mianmar. Trata-se da primeira resposta oficial do governo Trump à crise humanitária na fronteira entre Bangladesh e Mianmar. Em um discurso na ONU, o vice-presidente Mike Pence disse que o o presidente Donald Trump está chamando o Conselho de Segurança a adotar ações “fortes e rápidas” para por fim à crise dos rohingyas. Pence reiterou que o Exército birmanês deve cessar a violência imediatamente e alertou que, caso as operações continuem, as região seria “consumida por sementes de ódio de caos, ameaçando a paz de todos nós”. O anúncio foi feito enquanto líderes mundiais se reúnem nesta semana na Assembleia Geral das Nações Unidas. A líder de fato de Mianmar, Aung San Suu Kyi, recentemente cancelou sua participação na cúpula –uma decisão vista como uma tentativa de evitar as críticas internacionais que vem sofrendo desde o início da onda de violência contra os rohingyas. Na terça-feira (19), Suu Kyi conversou ao telefone com o secretário de Estado, Rex Tillerson. Foi o primeiro contato desde que Tillerson assumiu o cargo, em fevereiro deste ano. O governo americano afirmou que a quantia corresponde a aproximadamente um quarto do total necessário para contornar a crise, segundo estimativas de grupos de assistência humanitária. A expectativa de Washington é que outros países do mundo contribuam com os três quartos restantes. Segundo o presidente da organização Refugees Internacional, Eric Schwartz, o custo total da ajuda provavelmente chegará a centenas de milhões de dólares. “Eu faço esse tipo de trabalho há 30 anos”, disse Schwartz. “A situação que o Exército de Mianmar criou é a pior que eu já vi em termos de miséria humana”, declarou. Aproximadamente 421 mil rohingyas cruzaram a fronteira desde o final de agosto, segundo a ONU, fugindo de uma campanha de repressão do Exército birmanês em resposta a ataques de rebeldes da minoria muçulmana. O fluxo de pessoas aumenta o temor de um desastre humanitário em Bangladesh, onde os acampamentos de refugiados já abrigavam cerca de 400 mil rohingyas. As condições de vida nos campos são precárias; a grande maioria se abriga em barracas e não tem acesso a saneamento básico nem à água potável. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, condenaram na última semana as operações das forças armadas do Mianmar e as classificaram como um exemplo de limpeza étnica. A crise ameaça prejudicar o apoio americano à transição democrática do Mianmar, que passou os últimos 50 anos sob ditadura militar. A realização de eleições e a formação de um governo civil no país é considerada uma das principais conquistas em política externa do ex-presidente Barack Obama, que era próximo à Suu Kyi. Ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 1991, Suu Kyi é uma peça chave na transição. Líder da oposição ao regime militar, ela passou anos em prisão doméstica e se tornou um símbolo da luta pela democracia. Sua chegada ao poder representou para muitos rohingyas a esperança de uma mudança no tratamento recebido pelo Estado. Desde 1982 os rohingyas não são reconhecidos como cidadãos de Mianmar. Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e são proibidos de votar. Em Rakhine, Estado onde vive a maioria deles, a lei os proíbe de ter mais que dois filhos e os obriga a fazer trabalhos forçados. Na terça-feira (20), ela rompeu o silêncio e minimizou os danos causados pelo Exército Birmanês. Suu Kyi afirmou que o país receberia os rohingyas que desejassem retornar, desde que passassem um teste de “verificação” de suas identidades. ONGs criticaram a medida, afirmando que a grande maioria dos rohingyas não possui documentos oficiais por não serem considerados cidadãos de Mianmar. Simon Henshaw, um diplomata americano sênior responsável por assuntos de migração e refúgio, aplaudiu a iniciativa de Suu Kyi mas afirmou que a líder deveria garantir a segurança das regiões afetadas antes do retorno dos rohingyas. A Constituição de Mianmar, que foi introduzida pela junta militar que governou o país, prevê que as forças armadas são um “quarto poder” e não se submetem ao Executivo, Legislativo ou Judiciário. Esse dispositivo é uma das razões pela quais Suu Kyi tem tido uma atuação limitada na crise dos rohingyas. A viabilidade de um governo civil depende de uma coexistência com os líderes militares, que ainda detêm certo poder. No início do mês, a Turquia prometeu enviar alimentos e roupas para os campos de refugiados rohingyas em Bangladesh.