General dissidente revela plano do chavismo que torna opositor inimigo
Leia a seguir trechos editados do depoimento dado pelo general Hebert García Plaza, ex-ministro da Alimentação da Venezuela, à OEA (Organização de Estados Americanos) no dia 15. O general se desligou do regime de Nicolás Maduro por discordar de suas políticas, sobretudo da mudança no sistema de distribuição de alimentos, e deixou a Venezuela rumo ao Panamá por temer ser preso. * “Segundo o militar, a seleção de bairros para a distribuição de alimentos antes era feita com base em indicadores de pobreza e de pobreza extrema do Instituto Nacional de Estatística. O critério foi substituído por um critério político […] Os bairros passaram a ser politicamente priorizados de acordo com dois indicadores: população eleitoral e nível de simpatia ao governo. Aos bairros que deixavam de ser prioridade, o subsídio era reduzido.” “Depois de sua renúncia, foi alertado por três ministros que o presidente Maduro iniciaria um procedimento jurídico contra ele e aconselhado a deixar o país.” “O general dedicou parte de seu depoimento a explicar o Plano Estratégico Zamora 2017. Afirmou que um dos pontos básicos do plano era categorizar como inimigos as pessoas que fossem dissidentes políticos. Quer dizer, o Plano qualifica civis dissidentes como ameaça interna. Confirmou que o Plano Zamora converte o país em um teatro de operações. Existe uma estrutura formal e outra informal na cadeia de comando do plano. A formal está liderada pelo presidente, seguida pelo Comando Estratégico Operacional (CEO), em segundo nível, e as Forças Armadas, a milícia nacional bolivariana e os comitês locais de abastecimento e produção (Clap). Porém, disse que há uma estrutura paralela ao CEO, denominada Comando Antigolpe, formada pelo vice-presidente, Tareck El Aissami, Diosdado Cabello, Pedro Carreño e Freddy Bernal. Sublinhou que o comando antigolpe não é parte da estrutura militar, mas sua autoridade é dada diretamente pelo presidente, e que os Clap são unidades logísticas de distribuição de alimentos que agora têm a competência de participar de atividades de ordem interna em coordenação com as Forças Armadas. De acordo com García Plaza, o comando antigolpe atua de forma autônoma. Além da ativação do Plano Zamora neste ano, mencionou que, desde 2015, existe uma determinação do ministério da Defesa que permite o uso progressivo da força pela Guarda Nacional, incluindo a possibilidade de uso de armas de fogo. O general julgou que essa orientação era um erro, uma vez que deixa as portas abertas à possibilidade de interpretação individual de usar arma de fogo por parte dos efetivos que mantêm a ordem pública, segundo o Plano Zamora. Acrescentou que o número de pessoas que estão privadas de liberdade aumentou desde a ativação do plano.”