Governo interino da Síria diz que suspenderá Constituição e Parlamento durante transição e promete ‘Estado de direito’, diz agência

Rebeldes que tomaram o poder na Síria analisam situação financeira do governo enquanto buscam reconstruir o país — Foto: Reprodução/TV Globo
Rebeldes que tomaram o poder na Síria analisam situação financeira do governo enquanto buscam reconstruir o país — Foto: Reprodução/TV Globo
O governo interino da Síria disse que suspenderá a Constituição e o Parlamento do país por um período de três meses, durante a fase de transição, informou a agência France Presse (AFP) nesta quinta-feira (12).
Ainda não foram publicados mais detalhes sobre as suspensões da Constituição do Parlamento até a última atualização desta reportagem. Ainda não se sabe se o corpo parlamentar continuará o mesmo após a transição.
Promessa de ‘Estado de direito’
Os novos líderes da Síria prometeram nesta quinta-feira (12) estabelecer um “Estado de direito” após anos de abusos sob o presidente Bashar al-Assad, deposto em uma ofensiva-relâmpago liderada por rebeldes.
O porta-voz do governo sírio Obaida Arnaut garantiu à AFP nesta quinta-feira que os novos líderes querem estabelecer um “Estado de direito”.
“Todos aqueles que cometeram crimes contra o povo sírio serão julgados de acordo com as leis”, disse Arnaut.
A comunidade internacional está preocupada com o tratamento que os novos governantes podem reservar às várias minorias que vivem na Síria e muitos países pediram um governo “inclusivo”.
Segundo Arnaut, o novo poder irá “congelar a Constituição e o Parlamento” durante um período de transição.
“Será formado um comitê jurídico e de direitos humanos para examinar a Constituição e introduzir alterações”, disse o porta-voz.
Questionado sobre as liberdades pessoais e religiosas, o porta-voz afirmou que “respeitamos a diversidade cultural e religiosa na Síria”.
Retomada inesperada e fim da guerra na Síria
O grupo rebelde jihadista HTS tomou a capital síria Damasco no último final de semana e derrubou o governo de Bashar al-Assad. O ditador se mantinha no poder com apoio militar de aliados como a Rússia e o Irã.
A guerra civil na Síria começou em 2011 e, nos últimos quatro anos, parecia estar adormecida. Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, o ditador conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah.
No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.
Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.
Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.
Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.
O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.
“Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país. Aleppo, sendo a segunda maior cidade da Síria, é o primeiro destino que eles ocuparam.”
Segundo o professor, o acirramento do conflito pode ter consequências em todo o Oriente Médio. Se Assad cair, afirma ele, isso pode criar um vácuo de poder e escalar ainda mais as guerras que envolvem Israel, Hamas, Hezbollah e Irã.