Inflação surpreende e economistas elevam projeção para 2017

A inflação de setembro surpreendeu. Subiu 0,16%, influenciada pela pressão dos combustíveis sobre o setor de transportes. Os economistas esperavam a metade disso. A tênue mudança de rumo fez com que uma leva de analistas revisasse levemente para cima as projeções para do indicador no ano. Já se estima que pode chegar a 3%. Em 12 meses, encerrado em setembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tem alta de 2,54% De janeiro a setembro, porém, a inflação acumulada ainda impressiona pelo baixo valor: está em 1,78%, a menor taxa desde 1998 para o período. Hoje, a meta de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Inflação – Variação do IPCA, em % Uma inflação de 3% no ano não preocupa e resolveria o inusitado problema de o Banco Central ter de se explicar. Pelas regras, o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, teria de escrever, pela primeira vez na história, uma carta justificando a inflação abaixo do piso da meta. Segundo os analistas, os preços um pouco acima do esperado não têm força para alterar as projeções para os juros, que devem encerrar o ano em 7% –um recorde histórico. Embora o número de setembro tenha colocado fim a um ciclo de mais de uma ano de desaceleração de preços no acumulado de 12 meses, a economia em recuperação gradual e o fraco mercado de trabalho continuam a contribuir com uma inflação comportada por mais tempo. REVISÃO A LCA Consultores revisou o IPCA para o ano de 2,9% para 3%, incorporando a inflação de setembro e também uma trajetória menos benigna para os preços de energia. Segundo o economista Fábio Romão, o Banco Central deve levar os juros a 7% em dezembro, não só porque a surpresa com a inflação foi pequena, mas também porque os preços de serviços, relevantes para a política monetária, andaram de lado. Fábio Ramos, do UBS Brasil, também revisou a inflação do ano de 2,9% para 3%. Segundo ele, os dados de setembro sinalizam que o processo de deflação de alimentos deve se encerrar em outubro, após cinco meses consecutivos de queda. “Isso não quer dizer que a inflação vai subir muito, mas que o seu piso ficou pra trás e, daqui pra frente, vai se normalizar”, diz Ramos. Os alimentos acumulam queda superior a 5% no ano e foram cruciais para a queda da inflação cheia. Com a reação dos alimentos, afirma Ramos, as chances dos juros caírem abaixo de 7% diminuem. Não é, no entanto, o que pensam Bradesco e Itaú. O Bradesco prevê o IPCA em 3% neste ano e 3,9% no ano que vem. Com isso, a Selic deve chegar a 6,75% em fevereiro de 2018. Já o Itaú espera uma Selic ainda mais baixa, em 6,5% em fevereiro. Felipe Salles, do Itaú Unibanco, lembra que, a inflação de setembro não assusta porque não foi espalhada. Do 0,06 ponto acima do esperado, só o gás de botijão respondeu por metade disso. “Não é nada generalizado”, diz. “O pessoal estava acostumado a ser surpreendido para baixo e estranhou”.