Livro conta os ‘fracassos’ de cientistas que caçam respostas na natureza

Faz parte do trabalho de biólogos, arqueólogos, geólogos, ecólogos e de tanto outros “-ólogos” ir a campo para investigar seus objetos de estudo, sejam eles macacos ou vulcões. As excursões geralmente são planejadas com antecedência. As listas de equipamentos e de provisões são verificadas e reverificadas; a previsão do tempo, constantemente atualizada. O que poderia dar errado quando tudo está na ponta do lápis? Muita coisa, mostra um livro lançado recentemente pelo ilustrador francês Jim Jourdane. Ele reuniu episódios em que o trabalho de cientistas deu com os burros n’água e não economizou tinta para retratá-los –não só o que deu errado mas também como funciona cada pesquisa. A obra foi batizada de “Fieldwork Fail – The Messy Side of Science” (Fracassos no Estudo de Campo – O Lado Bagunçado da Ciência, em tradução livre, R$ 63, 77 págs.) e está disponível em inglês, francês e espanhol. A ideia, explica Jourdane, veio das redes sociais. Cientistas estavam compartilhando seus causos com a hashtag #fieldworkfail, algo como “#fracassonoestudodecampo”. “Quando eu já tinha uma dúzia de ilustrações, pensei que elas poderiam muito bem compor um livro. Foi algo progressivo, a ideia não veio de uma hora para a outra”, disse à Folha. Jourdane, que está com 34 anos, trabalhou os últimos sete anos na área de animação para a TV e também como ilustrador e quadrinista. Entre as histórias mais divertidas do livro, elenca o artista, estão a de uma cientista que, sem querer, grudou a si mesma num crocodilo na Indonésia. Também há o caso de um professor americano, que, em uma aula ao ar livre para 24 alunas do ginásio, libertou um pintassilgo (que tinha até nome, Mr. Flappy). O que ninguém esperava era que um falcão roubaria a cena, capturando violentamente o passarinho logo após ele ser libertado, em pleno voo –para o horror das garotinhas. O ilustrador também retrata seu próprio “fracasso”: ter ficado por cinco minutos parado e desenhando no meio da floresta amazônica peruana, tornando-se uma espécie de “quartel general” para todos os insetos do local. Uma outra vez, quando tinha de observar macacos de madrugada, ele caiu em uma poça de lama. Com nojo de suas roupas, ficou de cueca no sereno da madrugada por duas horas até poder ir embora. O livro foi possível graças a um financiamento coletivo. Eram pretendidos € 8.700 e € 32.699 foram obtidos. O artista não descarta um novo volume, já que boas histórias não faltam. Mas “só a história [do fracasso] não é suficiente. Eu quero saber o que os cientistas estudam, sobre o que estão falando.” Mas uma coisa é certa, diz Jourdane, “a prática de estudos de campo só é divertida por causa dos ‘fracassos’.” – Veja casos em que a pesquisa de campo não aconteceu como o esperado Macaco: animal que pertence à ordem dos primatas Biólogo: cientista que estuda as coisas vivas Pesquisa de campo: quando um cientista vai em busca de seu objeto de estudo na natureza Fracasso na pesquisa de campo: quando as coisas não saem conforme o planejado Grudenta A pesquisadora Agata Staniewicz acidentalmente grudou a si mesma em um crocodilo ao tentar instalar um rádio transmissor Rock’n’roll A ideia de Simon Dures era tocar som de búfalos para atrair leões. Acidentalmente tocou “Back in Black”, da banda AC/DC. Os riffs de guitarra não atraíram os animais Derreteu Na primeira vez que Jessica Ball escalou um vulcão, as solas de suas botas derreteram. Ao tentar esfriá-las com água, os calçados encolheram Mordidinha Leo Soibelzon tentava colocar uma grande foca para dormir com um anestésico. O bicho mordeu sua nádega, arrancando cinco camadas de roupa