Majestoso vê inversão de papéis e pode selar destino de arquirrivais

O líder Corinthians só marcou dois gols a mais do que o São Paulo, o 17º, neste Brasileiro. O abismo entre os rivais que se enfrentam neste domingo (24), às 11h, no estádio do Morumbi, é exposto justamente no quesito que marcou o último período hegemônico são-paulino, há dez anos: a eficiência ao se defender. Agora é o rival que exibe as qualidades que um dia já pertenceram ao time tricolor. A solidez da retaguarda, a melhor do campeonato, com 13 gols sofridos em 24 jogos, é o que propulsiona o Corinthians de Fábio Carille. Seu rival, que soma 12 rodadas na zona de descenso, levou quase o triplo de gols (36). A organização na hora de proteger sua meta se tornou uma espécie de marca registrada do time alvinegro nos últimos anos, passando por Mano Menezes e Tite. Característica que dá à equipe algo raro no país. Um jeito de jogar, independentemente do treinador da vez. Sofrer poucos gols foi marca importante durante o período hegemônico do São Paulo na era dos pontos corridos do Brasileiro, com o tricampeonato de 2006 a 2008. Nesse triênio, o auge foi a conquista de 2007. Na ocasião, a equipe dirigida por Muricy Ramalho levou apenas 19 gols, aquela que é até hoje a melhor marca da competição em seu atual formato. Na época, o são-paulino poderia se orgulhar daquilo que hoje se verifica no rival. Das últimas seis edições do Brasileiro, a defesa corintiana esteve entre as cinco melhores em cinco. Foi a menos vazada em 2011, 2013 e 2015 (veja quadro acima). Algo que se repete este ano, com Carille promovido a comandante. O treinador foi assistente tanto de Mano, de 2009 a 2010 e em 2014, como de Tite, de 2010 a 2013 e de 2015 a 2016, nesta fase de títulos nacionais e internacionais. “O Mano trabalhava muito a compactação. Entendi a linha defensiva, os 30 metros em relação à bola”, disse Carille. Média de gols sofridos por jogo em Brasileiros – colocação – GANGORRA Em 13 de setembro, o São Paulo abriu as portas de seu centro de treinamento para um grupo de torcedores, membros de organizadas incluídos, para reunião com jogadores, Dorival e diretoria. Dez anos atrás, na semana de um clássico, disputado em 7 de outubro, as uniformizadas do Corinthians também foram ao Parque São Jorge conversar com atletas. As coincidências entre o clássico de 2007 e o deste domingo vão além. O São Paulo era o líder, enquanto o Corinthians estava em 18º. Era a 30ª rodada, seis à frente da atual. O Corinthians venceu por 1 a 0, gol do zagueiro Betão, o que não impediu o rebaixamento. “As pessoas dizem que o Corinthians caiu em 2007, mas a gente sabia naquela época que o declínio começou muito antes. Desde 2004, quando quase caímos no Paulista”, afirmou Betão. O rebaixamento corintiano foi marcado por mudança de jogadores, dirigentes e técnicos. A contratação de Nelsinho Baptista foi a busca por uma referência do passado. “Mudamos o time e não encaixou”, disse Betão. O são-paulino agora reconhece esses elementos. Em dez anos, a inversão é total. “Falta encaixar” é uma expressão usada em demasia pelo técnico Dorival Júnior nas últimas semanas. Dorival é o 14º técnico do São Paulo em nove anos. Neste período, houve dez diretores de futebol. A identidade do tricampeonato se esfacelou. O time já lutou contra o rebaixamento em 2013 e 2016. Entre tantos nomes, o clube alternou visões de jogo opostas de um ano para o outro. Em 2015, foi ao mercado internacional buscar o colombiano Juan Carlos Osorio, que idealizava um time ofensivo, versátil, com metodologia de vanguarda. Em 2016, trouxe o argentino Edgardo Bauza, conservador que obteve sucesso priorizando a defesa. “O grande problema do Brasil é que se muda tudo. Se não tentar contratar para o jeito que você joga, o time perde estilo”, disse Muricy. “Não se trabalha com visão sistêmica. O que há são projetos pessoais tanto de dirigentes como de nós, treinadores”, complementou Paulo Autuori, técnico do São Paulo em 2013, à Folha. Osorio exerceu grande influência em Rogério Ceni, que, em ano eleitoral, foi contratado como técnico estreante. Após a queda do ídolo, a diretoria foi atrás de outra figura histórica, Hernanes. Mais um campeão brasileiro em 2007.