MBL mostra que regra de bangue-bangue não vale para metralhadora

SÃO PAULO – “Vagabundo”. “Tosco”. “Ignorante”. “Fim de linha”. “Sem noção”. O compêndio das mensagens do grupo de WhatsApp “MBL – Mercado”, que reúne integrantes do grupo e executivos do mercado financeiro, é aperitivo do que vem por aí no ano eleitoral. Descritas em reportagem da “piauí”, as conversas tratam da estratégia do MBL, até aqui a mais bem-sucedida entidade política da internet brasileira. Muito além da pequena fofoca, o episódio ilumina uma guerra travada cada vez mais abaixo da linha de cintura. A distribuição em massa de conteúdo supostamente privado, como o dessas conversas, ficou mais fácil e impactante —o WhatsApp soma 120 milhões de usuários no Brasil. A privacidade, como se vê, é só suposta mesmo, e não por falha de criptografia. Como serão tratados os crimes contra a honra cometidos nesses fóruns no calor da eleição? Outra questão são as próprias companhias de tecnologia; o papel delas nisso ainda é obscuro. Nos EUA, os detalhes mais importantes da campanha de 2016 só começaram a ser conhecidos recentemente. Segundo o Buzzfeed, essas empresas trabalharam com os marqueteiros, oferecendo serviços que incluíam o conteúdo das mensagens e maneiras de divulgá-las. A CNN afirmou que anúncios do Facebook bancados com dinheiro russo focaram Michigan e Wisconsin, Estados importantes na vitória de Donald Trump, com muita sofisticação no direcionamento de mensagens antimuçulmanos. É um exercício angustiante comparar o estado da arte da campanha digital —capaz de decidir uma eleição— e o debate em curso no Brasil. A reforma política versa vagamente sobre conteúdos promovidos e identificados com os partidos. É como impor regras de bangue-bangue numa disputa de metralhadoras. Vai sobrar muita bala perdida aos cuidados do Tribunal Superior Eleitoral, que deverá ser presidido por Luiz Fux.