Morte de Nasrallah tem mais impacto que a de Bin Laden, e resposta do Irã depende de programa nuclear, dizem analistas

Iranianos se reúnem em Teerã segurando cartazes com o retrato de Hassan Nasrallah, líder do grupo extremista Hezbollah — Foto: Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via Reuters
Iranianos se reúnem em Teerã segurando cartazes com o retrato de Hassan Nasrallah, líder do grupo extremista Hezbollah — Foto: Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via Reuters
“A morte do Hassan Nasrallah tem impacto político maior do que o de Osama bin Laden, maior do que a de Qassem Suleimani, comandante das Guardas Revolucionárias Iranianas, maior do que de Saddam Hussem, maior do que do Muammar Qaddafi. É a morte de uma liderança no Oriente Médio de maior impacto, seguramente, no século 21”, diz Guga Chacra, comentarista da GloboNews.
“O Irã não tem bomba atômica. O Hezbollah sempre foi uma espécie de bomba atômica do Irã, existente ali na fronteira com Israel para uma possível guerra contra o Israel ou os EUA, [para] servir como uma arma, para dissuadir Israel e os EUA de possíveis ofensivas contra o Irã. Isso não existe mais”, afirma Guga.
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Guga Chacra: É a morte de maior impacto do século no Oriente Médio
O partido político e grupo paramilitar era visto até duas semanas atrás como “a mais poderosa milícia do planeta Terra”, segundo Guga. Ele é constituído majoritariamente por xiitas, vertente muçulmana à qual também pertencem os aiatolás que comandam o regime iraniano. Assim como os houtis no Iêmen, o Hezbollah é financiado majoritariamente por Teerã.
“O Hezbollah nunca existiu pra defender os interesses dos palestinos. O Hezbollah nunca existiu pra defender os direitos dos libaneses. O Hezbollah existe para defender os interesses do Irã”, diz o comentarista da GloboNews.
A dúvida, segundo Guga Chacra, é se Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, vai tentar fazer com que a guerra já travada no Oriente Médio com o Hamas, em Gaza, e com o Hezbollah, no Líbano, chegue também ao Irã.
“O Netanyahu optou por aquilo que se chama de guerra total”, afirma. “E ele sabe que, por mais que os EUA sejam contrários a uma guerra contra o Irã, os EUA teriam que sair em defesa de Israel.”
Resposta iraniana
Também à GloboNews, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitélio Brustolin, afirma que a resposta iraniana depende da evolução de seu programa nuclear.
“Algum movimento do Irã deve vir, especialmente se o Irã conseguir fabricar sua primeira bomba nuclear, ou pelo menos [fabricar ogivas] em alguma quantidade maior, chegando a um nível próximo ao da Coreia do Norte, que hoje tem 50 ogivas.”

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Apesar de ser um objetivo conhecido de Teerã, a perspectiva de o país se tornar uma potência nuclear encontra resistência em todo o mundo, inclusive de aliados.
“Imagine o Irã, que é um país que usa grupos terroristas como instrumento de política externa, com armas nucleares. A gente começa a falar de terrorismo nuclear. Não é algo que interessa a ninguém, nem mesmo à Rússia.”
Futuro líder do Hezbollah
Segundo Brustolin, assim que se reorganizar, o Hezbollah deve nomear Hashem Saffiedine, um primo de Nasrallah, treinado no Irã, como seu novo líder.
“Esse primo do Nasrallah, que hoje tem 60 anos, ele chefia o conselho executivo do Hezbollah, chefia a parte financeira do Hezbollah. Ele está na linha sucessória desde os anos 90”, diz o professor.
“Não é certo ainda, mas é muito provável que o próximo líder do Hezbollah seja o [Hashem] Safieddine.”
Khamenei promete vingança

Líder supremo do irã, o aiatolá Ali Khamenei, em reunião com equipe do presidente Masoud Pezeshkian, em Teerã, na terça (27) — Foto: Escritório do Líder Supremo do Irã/via AP
Líder supremo do irã, o aiatolá Ali Khamenei, em reunião com equipe do presidente Masoud Pezeshkian, em Teerã, na terça (27) — Foto: Escritório do Líder Supremo do Irã/via AP
Mais cedo, o Khamenei já havia dito que o Líbano fará Israel “se arrepender” dos ataques em série promovidos contra o país desde semana passada,
Khamenei disse que é obrigação de todo muçulmano apoiar o povo do Líbano e o Hezbollah “com quaisquer meios que tenham” e ajudar a confrontar o “regime usurpador, opressivo e perverso” de Israel.

Israel diz ter matado chefe do Hezbollah
Os bombardeios de Israel ao Líbano, segundo o governo do país, têm como alvo o grupo extremista Hezbollah — que nasceu no Líbano, mas é financiado pelo Irã e aliado do Hamas. No entanto, os ataques já deixaram mais de 700 mortos e provocaram o maior êxodo de libaneses desde a guerra de 2006.

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O líder do Irã afirmou que o destino da região “será determinado pelas forças de resistência, com o Hezbollah na vanguarda”.
“Todas as forças na região estão ao lado e apoiam o Hezbollah. Deixe os criminosos saberem que eles são muito insignificantes para causar qualquer dano grave à forte estrutura do Hezbollah no Líbano”, disse Khamenei.
Khamenei também disse que Israel “não aprendeu nenhuma lição com a guerra criminal de um ano em Gaza”.
Histórico
Os conflitos começaram em 7 de outubro do ano passado, quando o grupo extremista Hamas atacou uma festa rave em Israel e outros pontos do país, deixando mais de 1.200 mortos e sequestrando centenas de israelenses.
Israel passou a atacar a Faixa de Gaza na sequência, alegando que o alvo eram integrantes do Hamas. No entanto, os ataques que ocorrem desde então devastaram a região da e deixaram mais de 40 mil palestinos mortos, a grande maioria de civis.