Mortes: Dona de bar, Maria Sem Troco foi tema de música em MS

Cruzeiros, cruzeiros novos, cruzados, cruzados novos, cruzeiros reais, reais. Corta zero, bota zero, tira os centavos, coloca de volta. Se a evolução do dinheiro no Brasil foi algo errática nos últimos 50 anos, o mesmo não se pode dizer da política do bar de Maria José da Luz Lira: fosse qual fosse a moeda corrente, ela nunca devolvia o troco. Como às vezes é preciso alguém de fora para constatar o óbvio, coube a um forasteiro cunhar o apelido da dona da biboca mais conhecida de Rochedo (MS), onde vivem 4.972 segundo o último censo. Depois de ver sua compra aumentar em progressão aritmética até atingir o valor da nota que tinha em mãos, o delegado da vizinha Corguinho, por ali de passagem, estreou o epíteto. E, como palavra de autoridade é o que vale, assim ficou: Maria Sem Troco. A alcunha não era exata: troco Maria tinha, mas fingia que não. As cédulas, na gaveta da registradora só por formalidade, ela colecionava –guardou boa parte até o fim da vida. Mas quem quisesse gelar a goela com uma cervejinha e não tivesse trocado era entuchado com pastel, pé de moleque e biscoito. A tática comercial rendeu até tema de canção regionalista. Religiosa, mas fã do Carnaval da cidade, tinha o gênio forte. “Era muito brigona pelos filhos”, conta Marta, com conhecimento de causa. O bar fechou em 2000, mas Sem Troco manteve o status de celebridade local. No dia 24, quando morreu, a prefeitura emitiu nota saudando-a como “a cidadã rochedense que mais apareceu na mídia”. Tinha 82 anos e não resistiu a duas paradas cardíacas. Deixa três filhos e dois netos. [email protected] – Veja os anúncios de mortes Veja os anúncios de missas