Nova provocação é desafio e indica que Kim Jong-un afia suas armas
Os dados disponíveis sobre o novo lançamento de míssil feito pela Coreia do Norte demonstram dois aspectos da provocação, um político e outro militar. No primeiro quesito, o regime do ditador Kim Jong-un deixou claro ao mundo que não se assustou com a mais recente rodada de sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Como em outras ocasiões, o efeito prático sobre a economia do país é mínimo. Servirá igualmente de argumento à administração de Donald Trump, que defendeu medidas mais duras contra o país asiático na ONU. Mesmo a principal ameaça contra o regime, o corte do envio de petróleo pela sua maior fornecedora, a China, é minimizado por alguns especialistas -Pyongyang possui tecnologia eficaz para liquefazer reservas de carvão, abundantes no país, e suprir sua necessidade energética. O Japão também é provocado diretamente, com o segundo míssil sobrevoando seu território em duas semanas, disparando pânico na forma de mensagens do governo enviadas ao celular a seus cidadãos. Do ponto de vista bélico, que será progressivamente esclarecido ao longo das próximas horas e dias, tudo indica que Kim está dizendo aos adversários que está afiando suas armas. O míssil lançado atingiu a maior distância até aqui de um projétil norte-coreano, cerca de 3.700 km segundo os Estados Unidos. Além disso, ele atingiu uma altitude máxima de 766 km. Esses dados sugerem que tratava-se de um Hwasong-12, um míssil balístico de alcance intermediário. O outro modelo à disposição da Coreia do Norte, o Musudan, tem um histórico péssimo de eficácia. Esse tipo de arma é a que Pyongyang ameaçou usar contra a ilha norte-americana de Guam, base militar no Pacífico, que fica a 3.400 km da capital norte-coreana. Mas o míssil também pode ser um modelo intercontinental, como o Hwasong-14 já testado, que pode levar uma carga explosiva para os EUA —seja ela nuclear, como Pyongyang disse já ser capaz de instalar, ou convencional. Neste caso, ele teria sido calibrado para uma trajetória mais curta, embora isso não faça tanto sentido se a ideia era demonstrar poder. Por outro lado, poderia servir ao objetivo de simular condições de segurança para o transporte de uma ogiva nuclear, que precisa suportar a grandes trepidação e temperatura de reentrada num voo suborbital como esse. Voltando ao Japão, fica a nota óbvia: o país nem tentou derrubar o míssil, reforçando a crença de analistas de que só pode interceptar mísseis mais lentos e de menor altitude e alcance.