O Brasil é um país de malas e profissionais

SÃO PAULO – Houve tempo que homem da mala era apenas o sujeito que aparecia no vestiário para sensibilizar os jogadores em direção a um resultado. O país da Lava Jato mostra que temos muita valise solta por aí e gente disposta a carregá-las. Rodrigo Rocha Loures, filho de família rica, achou que valia carregar R$ 500 mil de Joesley. Geddel Vieira Lima, político tradicional, emprestou apartamento para guardar uma mega-sena acumulada. Busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman encontrou cerca de R$ 500 mil em moedas variadas. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro é acusado pelo Ministério Público Federal e o da França de ser o homem da mala na votação que escolheu, em 2009, o Rio como sede olímpica. Por indicação sua, diz o MPF, Arthur Soares, empresário próximo ao então governador Sérgio Cabral, comprou o voto de um dirigente africano por US$ 2 milhões. Comprar voto para receber eventos esportivos é modalidade antiga. Salt Lake City-2002 derrubou dez membros do Comitê Olímpico Internacional. Outros tantos irão agora. A escolha de Rússia e Qatar para as duas próximas Copas desarranjou a Fifa. País do futebol, o Brasil frequentou ativamente esse maleiro: João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero foram ou estão sendo processados nas Justiças americana e europeia. Eventos esportivos são caros, geram contratos, e malas brotam do chão por eles. Ingênuo ou pilantra quem imaginou que Copa e Olimpíada consecutivas aqui teriam destino diferente. Como explicou Lula em discurso em 2010, “pela primeira vez, nós fomos disputar uma Olimpíada de forma profissional, arquitetada antes, planejada antes. Alguns falavam: ‘Nossa, mas o Brasil está gastando dinheiro’. Quem quiser fazer de graça, vá disputar para ver se ganha. Tem que contratar profissionais. Eu ganhei a eleição para presidente assim, meu filho…” Somos um país de profissionais.