‘O Fantasma da Sicília’ exalta a força dos sonhos e do cinema
O FANTASMA DA SICÍLIA (bom) DIREÇÃO Fabio Grassadonia e Antonio Piazza ELENCO Julia Jedlikowska, Gaetano Fernandez, Sabine Timoteo PRODUÇÃO Itália, França e Suíça, 2017 QUANDO estreia nesta quinta (28) Veja salas e horários de exibição * Após o premiado “Salvo – Uma História de Amor e Máfia”, a dupla de realizadores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza segue falando da Cosa Nostra em seu segundo longa. O filme é um ambicioso conto fantástico entre dois adolescentes sicilianos cujo relacionamento é devastado pela organização criminosa. Em um vilarejo da Sicilia, Luna (Julia Jedlikowska), 13, está apaixonada pelo colega de classe Giuseppe (Gaetano Fernandez), que desaparece repentinamente depois que ela lhe entrega uma carta em que declara seu amor. Movida por seus sentimentos, Luna tenta entender o que aconteceu e passa a procurar Giuseppe, enquanto a população do vilarejo mantém silêncio frente ao sumiço. Sozinha, a garota supera uma série de obstáculos nessa busca em que a natureza se transforma em espaço brumoso para jogos mentais e o mundo imaginário da garota. Na segunda parte do filme, ficamos sabendo que Giuseppe foi raptado pela máfia, pois o pai, membro da organização, fora preso e decidira delatar antigos cúmplices. No cativeiro, o menino lê a carta de Luna, enquanto ela tenta encontrá-lo guiada por aparições fantasmagóricas. A essa altura, a atmosfera de conto poético sobre o primeiro amor e as transgressões adolescentes começa a conviver com a história de vingança. Simultaneamente, a narrativa amplia a acumulação de elementos simbólicos que acabam saturando-a. Entre os elementos reiterados, sempre ligados à natureza, estão o lago, o bosque, a lua, a coruja –cujo olhar intenso indica mergulho num mundo intermediário, à beira do invisível, aponta para o mistério que cerca o sumiço e é sinal de maldição em várias culturas antigas. O excesso de simbolismo parece obedecer a um desejo de tudo explicar, deixando pouco espaço à sugestão, à imaginação. Da mesma forma, a segunda parte é demasiado longa, a ponto de algumas vezes se ter a impressão de estar diante da cena final. Esses problemas prejudicam –mas felizmente não comprometem– o resultado desse filme singular, refinado na forma e com pulsação vigorosa ao opor a força do amor à dura realidade da máfia. Só uma vez terminado o filme, o espectador fica sabendo que se baseia numa história real –o sequestro de Giuseppe di Matteo pela máfia, em 1993, seguido de longo cativeiro e de morte–, o que aumenta a carga perturbadora dessa fábula sombria, claustrofóbica e brutal que exalta a força do cinema e do sonho.