‘O Jantar’ garante bons momentos, mas alegorias atrapalham

O JANTAR (regular) (The Dinner) DIREÇÃO Oren Moverman ELENCO Richard Gere, Steve Coogan, Laura Linney, Rebecca Hall PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (7) Veja salas e horários de exibição * A escolha de títulos minimalistas costuma servir para destacar o contrário, a complexidade de uma trama ou da maneira de contá-las. “O Jantar” usa o artifício nesse sentido, convocando o espectador a sair do habitual torpor. O contraste visa provocar surpresas e transmitir a sensação de que estamos diante de um produto elaborado, o contrário de um filme-pipoca. O primeiro sinal dessa ambição aparece na maneira como se apresenta o grupo de personagens por meio de situações sem conexão aparente. Numa festa adolescente vemos três garotos saírem dos limites e um deles começa a passar mal. Em seguida, um casal discute a necessidade de ir a um restaurante sofisticado e afetado. Outro par, em contraste com o anterior, dirige-se a um compromisso social, mas a comunicação entre eles parece quase rompida. Aos poucos, conectam-se como partículas da mesma família, ligadas afetivamente, mas também afastadas por diferenças e ressentimentos. O reencontro dos irmãos Paul (Steve Coogan) e Stan (Richard Gere) com as respectivas esposas, Claire (Laura Linney) e Katelyn (Rebecca Hall), em um jantar é estruturado conforme a ordem da refeição. A relação truncada entre eles é reiterada pela intromissão do maître, que a todo momento interrompe a conversa para apresentar os pratos. A situação é marcada pela teatralidade, aspecto que reforça a impressão de convivência forçada, de que algo está oculto por máscaras prestes a cair e revelar algo grave. O filme, porém, não demora a se tornar refém de seus artifícios. A concentração em um espaço único alcança bons momentos graças às qualidades do elenco, mas a tendência ao blá-blá-blá dramático também provoca cansaço. Quando escapa do enclausuramento por meio de recuos temporais e da invasão de um grave impasse moral, “O Jantar” ainda acumula outras camadas, ameaçando-nos com uma perigosa indigestão. A ressurgência de fantasmas da Guerra Civil americana como alegoria de fraturas históricas não curadas traz outras complicações que o filme apenas amontoa. O trabalho do diretor Oren Moverman se aproxima do molde do cinema engajado praticado por realizadores como Martin Ritt e Alan J. Pakulla nos anos 1970 e 1980. Lá e cá, registramos a mensagem, mas pouco do filme é digno de memória. Assista ao trailer de “O Jantar” Assista ao trailer de “O Jantar”