Pacote de corte de gastos: analistas do mercado estimam efeito menor do que o projetado pelo governo

O Ministério da Fazenda estimou nesta sexta-feira (20) que o pacote de corte de gastos proposto pelo governo, e aprovado pelo Congresso Nacional, terá um efeito de R$ 69,8 bilhões em 2025 e 2026, mas projeções de economistas do mercado financeiro apontam para um impacto bem menor.

Segundo estimativa da XP, após a “desidratação” das medidas promovida pelo Legislativo, o potencial de redução de despesas do pacote, nos próximos dois anos, será de R$ 44 bilhões.

“Adicionalmente, vemos que o provável ganho fiscal é insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, acrescentou a XP.

Pacote fiscal aprovado: Alívio ou pressão?

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De acordo com nota técnica da Warren Rena, o corte de despesa trazido pelo pacote será de R$ 19,2 bilhões e de R$ 26,2 bilhões para 2025 e 2026, ou seja, um total de R$ 45,4 bilhões.

“Com isso, no próximo ano, o déficit de 2025 será de R$ 75,1 bilhões, compatível com o cumprimento da meta fiscal, considerando-se o intervalo inferior da meta, déficit de R$ 31 bilhões, e os precatórios excedentes não computados, R$ 44,1 bilhões”, diz a Warren Rena.

Para a instituição, porém, o governo terá de efetuar um bloqueio de R$ 35,4 bilhões nas despesas dos ministérios, em relação ao nível de gastos livres que consta na proposta de orçamento, para atingir o déficit fiscal zero em 2025, algo considerado “politicamente desafiador”.

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Desidratações

O pacote fiscal aprovado pelo Congresso Nacional sofreu alterações significativas que desidrataram diversas medidas inicialmente propostas pelo governo.

No caso do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Congresso flexibilizou as regras inicialmente propostas, permitindo que mais pessoas continuem elegíveis ao benefício. A proposta original restringia o conceito de família e considerava a renda de outros idosos na composição do cálculo. Contudo, o texto final excluiu essa previsão, permitindo que duas pessoas da mesma família possam receber o benefício. Além disso, a definição de pessoa com deficiência manteve-se mais ampla, contrariando a intenção de endurecimento do governo.

A questão dos supersalários no funcionalismo público também sofreu ajustes. Enquanto a proposta original previa que exceções ao teto salarial fossem definidas por lei complementar, o texto final permite que sejam estabelecidas por lei comum, mais fácil de ser aprovada. Essa mudança mantém, na prática, a possibilidade de servidores públicos continuarem recebendo benefícios que ultrapassam o teto, até que uma legislação específica seja sancionada.

Outro ponto que foi desidratado foi a implementação obrigatória do cadastro biométrico para a manutenção de benefícios sociais. Embora a proposta ampliasse a exigência para programas como o Bolsa Família, o Congresso ampliou os prazos para regularização dos cadastros e criou exceções para áreas remotas e pessoas em condições de vulnerabilidade. Essa flexibilização pode retardar os resultados esperados com a medida.

A recriação do seguro obrigatório DPVAT, renomeado SPVAT, foi completamente derrubada pelo Congresso. Apesar de ser uma das propostas do governo, a resistência de governos estaduais em realizar a cobrança levou à extinção da medida. Essa alteração elimina uma potencial fonte de receita e foi alvo de intenso debate durante a tramitação.

Por fim, a desvinculação de receitas, que permitiria maior liberdade no uso de dividendos, royalties e verbas de concessões, foi aprovada, mas com ressalvas que limitam o impacto pretendido pelo governo. Além disso, a manutenção de regras que restringem o crescimento de despesas obrigatórias reflete o esforço do Congresso em equilibrar o controle fiscal sem prejudicar os interesses de grupos específicos. As desidratações indicam que, apesar de o pacote ter avançado, ele chega ao final com menos força do que o governo esperava.