Para especialista, nova lei trabalhista vai exigir profissional mais organizado e flexível
JULIANA ELIAS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A reforma das leis trabalhistas mudará profundamente a relação entre profissionais e empresas e exigirá funcionários mais flexíveis, capazes de se adaptar ao novo cenário, afirma Fernando Azar, sócio-líder de gestão de obrigação de terceiros da consultoria Deloitte. Especializado em prestar suporte em legislação trabalhista às organizações, Azar diz que o horário comercial que rege a maioria das empresas vai acabar. Benefícios como banco de horas e home office serão tão importantes quanto remuneração na hora de contratar. Sancionada em julho, a reforma entra em vigor em novembro alterando diversos pontos da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). São mais de cem mudanças que interferem diretamente no dia a dia das empresas -as quais os novos profissionais terão que ter em mente na hora de ingressar no mercado de trabalho. “Flexibilidade é a palavra-chave. É uma mudança de paradigma e todos terão que estar abertos a ela, sejam empregados, empresas ou sindicatos”, diz Azar. * Folha – Como a reforma trabalhista deve alterar a relação entre as empresas e seus funcionários? Fernando Azar – A principal diferença está nas negociações de benefícios. Banco de horas, duração da jornada, horas extras ou o home office são alguns dos pontos que poderão ser acordados entre a empresa e seus funcionários, independentemente do que determina a CLT. São flexibilidades que não existiam antes e abrem um leque grande de negociação. As empresas vão poder utilizá-las até como forma de atrair profissionais, da mesma maneira como usam hoje a remuneração ou a oferta de cursos e benefícios. Quais características serão necessárias ao profissional nesse novo cenário? O profissional terá que ser mais flexível a mudanças. Não será mais como é hoje, em que as regras estão ditas na lei, segue-se aquilo e pronto. Ganha-se uma dose maior de responsabilidade, porque quando algo for acordado, será necessário respeitar e seguir daquela forma. Flexibilidade é a palavra-chave. Estamos falando de uma mudança de paradigma e todos terão que estar abertos a essa mudança, sejam empregados, empresas ou sindicatos. E como essa flexibilização da legislação deve afetar a rotina nos escritórios? Depende muito da atividade. Mas, como eu disse, é uma mudança de paradigma. O horário comercial será mais flexível também, com as cobranças se voltando mais para realizações de tarefas do que simplesmente para o horário de trabalho. Isso significa que o profissional deve ser mais organizado para conseguir administrar sua rotina de trabalho com a vida pessoal. Já as empresas e os chefes terão que entender que as tarefas não serão mais entregues às 17h. Podem ser feitas a qualquer momento e de qualquer lugar. Em quais setores estas mudanças se aplicam com maior intensidade? Claro que há atividades que dependem de mais interação com as pessoas ou com a empresa. Um serviço de telemarketing precisa funcionar no horário comercial, mas há muitos trabalhos que não demandam essa rotina, como a produção de um relatório ou a preparação de uma tradução. Mas é possível flexibilizar em várias frentes. Na indústria, o trabalho a distância pode não funcionar, mas o horário do almoço ou as folgas de feriado deverão ser negociadas. Em quanto tempo devemos começar a sentir estas mudanças na prática? No primeiro semestre de 2018 começam as rodadas de negociações coletivas com os sindicatos e já será possível ter as primeiras impressões. Para saber como será o entendimento do Judiciário, o que ainda causa insegurança nas empresas, será preciso ao menos dois a três anos, até os primeiros processos. Mas estamos falando de mudanças também comportamentais, e isso demora bem mais para se consolidar.