Para funcionar, gestão escolar precisa ser universal e focada no estudante

Uma estratégia de gestão escolar deve ser universal, ter o estudante no centro e contar com profissionais em constante aperfeiçoamento de competências, que estejam também engajados em seu próprio processo de desenvolvimento profissional. A definição é do superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, que falou sobre o desenvolvimento de competências para gestão nesta quarta-feira (27). A palestra aconteceu durante o 3º Seminário Gestão Escolar, promovido pelo Instituto Unibanco, em parceria com a Folha e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). De acordo com Henriques, a noção de escola só é justa se for voltada para todos, e não para uma minoria ou uma maioria, como, segundo ele, hoje acontece no Brasil. “No Brasil, de 100 alunos, só 96 concluem o ensino fundamental 1; 83 concluem o ensino fundamental 2 e apenas 65 vão até o fim do ensino médio”, disse Henriques, que também apontou para a desigualdade entre os números de estudantes branco e negros que concluem o ensino médio. Para resolver a questão, segundo ele, a gestão escolar deveria focar na relação produtiva professores e alunos, com o estudante no centro de todo o processo. A escola ideal deveria reconhecer a importância de uma boa gestão de pessoas, dos aspectos físico-financeiros e do campo relacional entre alunos, professores e pais, tudo a serviço da gestão pedagógica. Henriques afirmou ainda que a gestão escolar muitas vezes sofre preconceito no meio educacional por passar a ideia de ser uma camisa de força, que não oferece espaço para agir. Seu objetivo, porém, seria o contrário disso. “Um protocolo de gestão escolar é uma rotina de pensamentos que permite mudar a mentalidade instalada. Ele deve ser um guia modulável, plástico, que se formata em função das circunstâncias”, defendeu. Como os resultados são observados a partir da prática, Henriques reforçou a importância de dar tempo para que as soluções apareçam e o processo seja constantemente aperfeiçoado. “O pessimismo com a falta de resultados e esse sentimento de impotência e desconfiança gera uma relação preconceituosa com protocolos.” O superintendente também lembrou que é preciso fugir de dois reducionismos antagônicos no campo da gestão escolar: de um lado, a hipertrofia da gestão e, do outro, a negação de sua importância. Segundo Henriques, a hipertrofia da gestão, que levaria a uma maior preocupação com o processo em si do que com a parte pedagógica, é uma prática esvaziada de objetivo, uma preocupação exclusiva com a eficiência, mas que desvaloriza a educação. Já a negação da gestão acaba por desperdiçar a importância de metas e resultados, fazendo com que as escolas ajam de forma individualizada, sem uma visão de comunidade e com o consequente enfraquecimento do ensino. “Praticar a gestão da educação é ter essa visão harmônica, que não seja nem o exagero nem a negação. E não tem como fazer isso sem se dedicar ao desenvolvimento profissional”, afirmou. De acordo com Henriques, valorizar a carreira dos gestores escolares vai além de adquirir conhecimentos. Significa aprender a utilizá-los na prática, de forma eficiente e com autonomia. “A gente não vai virar a Finlândia no campo de gestão educacional, nós seremos o Brasil. Para fazer as coisas funcionarem nesse contexto institucional de forte centralização, precisamos conseguir questionar e debater as definições de gestão. Só assim teremos mais autonomia em nossas decisões.”