Paz colombiana

Num momento em que o mundo se vê tomado por uma onda de tensões, é animador constatar avanços no processo de paz na Colômbia. O presidente Juan Manuel Santos anunciou na segunda (4), às vésperas da chegada do papa Francisco ao país, um cessar-fogo bilateral com o ELN (Exército de Liberação Nacional), a principal guerrilha colombiana em atividade. Ainda que falte muita negociação para um acordo definitivo, a suspensão das hostilidades já representa um passo importante. O embate entre o Estado colombiano e os grupos armados remonta aos anos 1960. De início movimentos de inspiração marxista, as guerrilhas –à medida que a ideia de revolução socialista se mostrava cada vez mais inviável– forjaram uma improvável aliança com o banditismo ordinário. Suas atividades degeneraram em sequestros e narcotráfico. Estima-se que os conflitos no país ao longo das últimas cinco décadas tenham ocasionado mais de 220 mil mortos e vitimado outros 6 milhões de cidadãos. O ELN conta com algo entre 2.500 e 3.000 combatentes. Tornou-se a maior guerrilha do país depois que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) iniciaram, no final do ano passado, um processo de desmobilização, convertendo-se em partido político. Espera-se que o ELN siga o mesmo caminho, comprometendo-se a abandonar as ações criminosas e a entregar as armas em troca de um pacote de benefícios como anistia parcial, representação política e até um programa de bolsas para os ex-guerrilheiros se sustentarem. De toda maneira, embora a paz seja em tese alcançável, são muitos os obstáculos para obtê-la. O processo é visto com ceticismo não apenas pelos guerrilheiros como também pela população colombiana, que chegou a rejeitar em plebiscito, no ano passado, uma primeira negociação com as Farc –por entender que eram exageradas as vantagens oferecidas. Além disso, dificuldades práticas de toda ordem atravancam a implementação do plano, agravadas pelo fato de que há pouca confiança entre as partes. “A busca da paz é um trabalho contínuo e sempre em aberto. É preciso deixar de lado os sentimentos de curto prazo, como o da vingança”, discursou o papa Francisco nesta quinta (7), em Bogotá. Compreende-se que a sociedade veja com receio as concessões feitas a grupos que causaram tanto sofrimento ao país. Não parece haver outro caminho, entretanto, para alcançar um bem mais duradouro: o restabelecimento da paz. [email protected]