Pichações revelam aumento da intolerância religiosa no Rio

RIO DE JANEIRO – Multiplicam-se em ruas do Rio pichações com a frase: “Bíblia sim. Constituição não”. Elas têm origem em um grupo de evangélicos liderados por um pastor que chegou a ser preso, sob a acusação de crime de intolerância religiosa. Passou menos de um mês na cadeia. Criou então o dia do pastor perseguido, em que protesta contra o que acredita ter sido um atentado à liberdade de expressão. O pastor volta e meia lidera manifestações públicas, que reúnem não mais do que 50 pessoas. Na mais recente, havia faixas contra o islamismo, a umbanda e o candomblé. O Corão é definido pelo pastor como “guia de estupros e assassinatos”. Afirma que pais de santo são homossexuais. Dessa pregação radical saiu um grupo que invadiu e depredou um centro espírita no Catete. O pastor conclama seus seguidores a ignorarem a Constituição e seguirem a Bíblia. “Meu Deus não compactua com político. No Congresso Nacional, Jesus nunca entrou. Jesus me disse: onde entra a política, eu saio”. O pastor se remunera vendendo álbuns nos quais transforma o ideário tosco em versos. O que impressiona é que a maioria dos seguidores de tal pastor é formada por jovens. Muitos têm menos de 20 anos e se orgulham de ir às ruas com camisas pretas e dizeres religiosos radicais. Ignoram citações bíblicas pacíficas: “Não tenhas inveja do homem violento, nem escolhas nenhum dos seus caminhos.” (Provérbios 3:31). Identificam-se com as de tom agressivo: “A desgraça matará os ímpios; os que odeiam o justo serão condenados. (Salmos 34:21)”. Grupos assim têm se multiplicado em áreas carentes do Rio. Alguns se aliaram a traficantes, “soldados da fé” a constranger adeptos de religiões de matriz africana. A intolerância se alimenta da ignorância e cultiva a raiz do ódio e do fanatismo. E alguém ainda ganha dinheiro com isso.