Planalto quer ação política para pressionar STF a liberar áudios

O Palácio do Planalto vai apostar na atuação política para pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) a liberar os áudios da delação da JBS e tentar comprovar a tese de que o acordo dos irmãos Batista foi direcionado para atingir Michel Temer. Com aval do presidente, aliados ao governo no Congresso vão cobrar que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte, suspenda o sigilo de áudios recuperados pela Polícia Federal e das novas mídias entregues na semana passada pelos executivos da JBS à PGR (Procuradoria-Geral da República). Além disso, a defesa do peemedebista vai reiterar o pedido —já negado pelo Supremo— de acesso às gravações. A estratégia ao encontro da narrativa que vem sendo ecoada por Temer e seus auxiliares desde maio, de que o presidente foi alvo de uma armação e é perseguido pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. Agora, o presidente quer tentar comprovar que os procuradores atuaram para direcionar a operação contra ele e, no limite, caso seja concluído que as provas foram induzidas, conseguir que elas sejam anuladas no processo. Nesta segunda-feira (4), Janot, disse que pode anular a delação premiada de executivos da JBS por omissão de informações sobre práticas de crimes cometidos durante a negociação do acordo. Esses indícios, segundo gravações de conversas mantidas em sigilo, envolvem integrantes do STF e da PGR, como o ex-procurador Marcelo Miller. Assessores de Temer querem provar que Miller atuou para direcionar a operação contra o presidente e questionar o comportamento de Janot e Fachin durante as tratativas do acordo de delação da JBS. Para o Planalto, todo o trabalho de Janot até aqui está comprometido e é preciso entender qual foi a participação do procurador-geral durante a negociação do acordo. O discurso que será reforçado pelo presidente é o de que os fatos fragilizam o instrumento da delação e que as provas obtidas por Joesley –que gravou uma conversa com Temer no Palácio do Jaburu na qual relata pagar pelo silêncio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)–, foram criadas e, portanto, devem ser anuladas. Advogados consultados por auxiliares do presidente afirmam que as provas induzidas podem ser anuladas e que o empresário deve perder os benefícios e ser preso. SEGUNDA DENÚNCIA Apesar do discurso de fragilidade política de Janot e também da suposta desconstrução da delação da JBS, Temer e seus auxiliares acreditam que o PGR irá apresentar a segunda denúncia contra o peemedebista nos próximos dias, antes de deixar o cargo, em 17 de setembro. A primeira denúncia, por corrupção passiva, foi barrada pela Câmara no início de agosto após articulação política do Planalto que contou com a liberação de cargos e emendas para os deputados. A avaliação de Temer é que nova acusação formal contra ele, desta vez por obstrução de Justiça e formação de organização criminosa, vai estar contaminada e que isso servirá de argumento para os parlamentares que terão que votar pelo prosseguimento ou não na peça no plenário da Câmara. Temer vai apostar no espírito de corpo e dizer que, com Janot enfraquecido, as investigações que avançam sobre a classe política também estão comprometidas.