Prisão de Nuzman não garante o mais importante: a demolição da estrutura
Carlos Nuzman está preso. Pode ser que fique só cinco dias ou mais cinco, caso a prisão temporária dobrada. Ou pode ficar encarcerado preventivamente se assim a Justiça decidir. Qualquer que seja seu futuro próximo a vergonha permanecerá para sempre em sua biografia. João Havelange, seu ídolo e inspirador teve mais sorte. Viveu 100 anos sem passar por tamanha humilhação, a de ser preso por corrupção, embora no fim da vida tenha sido obrigado a renunciar aos seus postos honoríficos na Fifa e no COI, denunciado por crimes semelhantes aos de Nuzman. Já José Maria Marin viu o sol quadrado de uma cela na Suíça, corre o risco de voltar a vê-lo nos Estados Unidos onde será julgado no próximo dia 6 e aguarda o veredicto em prisão domiciliar em Nova Iorque, na luxuosa Trump Tower. Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero cuidam de não sair do Brasil para não terem o mesmo fim, apesar de andarem preocupados com a possibilidade de a moda pegar por aqui mesmo, como já pegou o ex-presidente da CBDA, Coaracy Nunes, o cartola da natação. Seria auspicioso se tudo isso servisse para quebrar a superestrutura monolítica que há décadas promove toda sorte de malfeitos no esporte nacional. Nada indica que quebrará. Entre outras razões porque o problema é mundial, tanto que o COI vê se repetir na Olimpíada brasileira o que já havia acontecido comprovadamente na de Inverno em Salt Lake City, nos Estados Unidos, em 2002, motivo de alegada operação de limpeza na entidade, mas, como se vê, apenas alegada. Daí não haver motivos para festejar a desgraça do presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Rio-16. Nuzman, como os demais, é apenas fruto da estrutura podre que impede a democratização do acesso ao poder nas entidades esportivas e abre os bolsos para as maneiras mais heterodoxas de sobrevivências nababescas, avessa à modernização dos métodos de gestão. Desde a redemocratização do país, e também no período da ditadura, todos os cartolas aqui citados conviveram promiscuamente com os generais e civis que nos governaram e governam, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Porque a cara do esporte não é diferente da cara da política, o Congresso Nacional não é melhor que CBF e a Justiça brasileira marca um gol aqui e ali, mas no mais da vezes toma bola entre as pernas. Não fosse o suficiente, envergonha também ver o ar de fingida surpresa na face de quem tem a obrigação de contar o que sabe, de denunciar grandes negociatas em torno de megaeventos, mas que silencia convenientemente até que não dê mais. Escrevi um livro de memórias com título que desagradou meus amigos, porque confesso que perdi. Uns acham que ganhei, outros que ao menos empatei, todos têm certeza de que resisti, razão pela qual deveria comemorar o infortúnio da cartolagem, enfim, desmascarada e detida ou em vias de. Pois digo a eles, como à rara leitora e ao raro leitor, que a desgraça dos cartolas não me faz feliz. Feliz ficaria se fossem substituídos por gente decente e competente. Estou convencido de que não verei tal dia chegar. Minhas netas, quem sabe?