Profissionais com mais de 45 anos investem em cursos no exterior
LEANDRO NOMURA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Depois de 15 anos trabalhando numa multinacional de eletroportáteis, o gerente de vendas Elcio Teixeira, 56, virou um dos 13,3 milhões de desempregados do Brasil em março deste ano. Antes de procurar uma recolocação profissional, Teixeira foi atrás de deixar o currículo mais atrativo aos olhos dos selecionadores. Com o dinheiro da rescisão contratual, ele embarcou no fim de abril para um intercâmbio de três meses em Vancouver, no Canadá. Queria aprimorar o inglês e ter aulas centradas em sua área de atuação, como negócios e marketing. “Depois que voltei, já fiz duas entrevistas de emprego. Também me sinto confiante para me candidatar a vagas que pedem inglês fluente”, afirma ele, que investiu cerca de R$ 30 mil, entre cursos, passagens, hospedagem e alimentação. CRESCE A PROCURA Na agência Experimento, onde Teixeira fechou o seu pacote de intercâmbio, houve um crescimento de 40% na demanda por cursos voltados para pessoas acima de 45 anos no último semestre em relação ao mesmo período do ano passado. No STB (Student Travel Bureau), o aumento da procura por intercâmbio entre pessoas de 45 a 55 anos foi de 33% no primeiro trimestre de 2017, em comparação com os três primeiros meses de 2016. No geral, considerando todas as idades, o Brasil mandou 12% mais estudantes para o exterior em 2016 do que no ano anterior, de acordo com os dados mais recentes da Belta (associação das agências de intercâmbio). “O intercâmbio é anticíclico, ele cresce na crise”, diz Santuza Bicalho, diretora de produtos da Experimento. “Se uma pessoa recebe indenização numa demissão, ela investe nela própria. É uma oportunidade para quem não tem uma experiência acadêmica internacional”, afirma Bicalho. Os programas destinados a pessoas com mais de 45 anos se diferem daqueles para adolescentes, a começar pela duração do curso. Enquanto os mais jovens costumam passar semestres inteiros em outro país, os viajantes mais experientes escolherem períodos mais curtos. SEM ‘ADOÇÃO’ No ano passado, entre um emprego e outro, a advogada Patricia Garbin, 47, ficou dois meses no Canadá, destino favorito dos intercambistas brasileiros, independentemente da idade, de acordo com pesquisa da Belta. “É um país multicultural e receptivo para o estrangeiro, recebe pessoas do mundo todo. A outra opção seria Inglaterra, mas sairia muito mais caro do que no Canadá”, afirma Garbin, que comprou o pacote pelo STB e gastou 6.000 dólares canadenses (cerca de R$ 15 mil) com tudo, exceto a passagem aérea. “O mais caro é a hospedagem”, conta ela. A advogada optou por ficar numa espécie de pensão em Toronto, uma casa grande, com vários quartos individuais, onde ela compartilhava sala, cozinha e lavanderia, mas dormia sozinha e tinha um banheiro próprio. “Escolher bem o local é importante. Conheci pessoas que foram para casas de famílias achando que seriam ‘adotadas’ e se frustraram. Para quem recebe, é apenas uma relação comercial.” TROCA DE FAMÍLIA Foi o que aconteceu com Teixeira. Ao chegar ao Canadá, ficou na casa de um casal de imigrantes filipinos que mal conversavam com ele. “Tinha a expectativa de criação de laços, almoçando e jantando juntos todos os dias. Isso não ocorreu”, diz o gerente de vendas, que trocou de família anfitriã no meio da viagem e foi para a casa de um nigeriano e de uma paquistanesa, casal mais aberto para trocas de experiências. “Com eles, fiz até churrasco”, lembra. ÁREA PROFISSIONAL Além de aulas do idioma escolhido -o inglês é o número um-, os programas de intercâmbio para pessoas acima de 45 anos incluem cursos voltados à carreira do profissional. “Os mais procurados são de negócios, finanças, recursos humanos, marketing, design e moda”, diz José Carlos Hauer Santos Junior, presidente do STB (Student Travel Bureau). “Quanto mais conhecimento de inglês tiver, mais a pessoa aproveitará. Se não, é preciso ficar um período estudando a língua para só depois começar atividades com foco na profissão.” A gerente de uma indústria de alimentos Sandra Franco, 48, aproveitou as férias de 2014 para estudar durante um mês na Inglaterra. “Ficava dedicada o dia todo. De manhã, tinha aulas particulares com ex-profissionais de marketing e de vendas. Eles entendiam o que eu precisava e direcionavam os estudos”, conta ela, que aprendeu até regras de etiqueta para reuniões com estrangeiros. À tarde, havia aulas em grupo, com pessoas de sua faixa etária. “Só tinha gerentes, CEOs e diretores”, afirma Franco, que optou por uma escola que separava os jovens dos mais maduros. O investimento de R$ 35 mil valeu a pena. Ao voltar do curso, foi promovida. Silvana Barros, consultora de carreira da Randstad, diz que o mercado vê com bons olhos os profissionais que fazem intercâmbio após os 45 anos. “É bem-visto, independentemente da idade. Mostra que a pessoa se mantém interessada.” No entanto, destaca que o programa não é garantia de emprego nem de promoção. “Inglês não é mais diferencial, é pré-requisito em determinadas áreas.” * MALA PRONTA Como se preparar para estudar fora do país PASSAPORTE Programe-se com no mínimo dois meses de antecedência. Alguns países exigem visto PERFIL Considere seu objetivo profissional na hora de escolher a escola, já que há uma variação grande de programas e conteúdos CONTATOS Opte por turmas só com pessoas mais velhas, isso ajuda a manter o foco e a criar uma rede de contatos LÍNGUA AFIADA Se não for fluente no idioma, chegue algumas semanas antes para estudá-lo e só depois começar o curso profissional DOCE LAR Para evitar mudanças no meio do curso, pense bem no tipo de hospedagem que prefere -o peso desse item no custo total também é grande. Se for ficar em casa de família, não espere pela criação de laços pessoais DEDICAÇÃO TOTAL Prepare-se para estudar por períodos longos. Cursos para mais velhos são mais intensos do que os voltados a jovens LISTA DE DESEJOS Elenque as habilidades que quer aprimorar e informe os professores para que eles adaptem as aulas