Putin diz concordar com cessar-fogo, mas quer discutir proposta com EUA; Trump afirma que discutiu cessão de territórios à Rússia com a Ucrânia
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia de assinatura e de uma coletiva de imprensa após uma reunião com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, em Moscou, Rússia — Foto: Maxim Shemetov/Pool/Reuters
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia de assinatura e de uma coletiva de imprensa após uma reunião com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, em Moscou, Rússia — Foto: Maxim Shemetov/Pool/Reuters
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira (13) que concorda com a ideia de um cessar-fogo de 30 dias na guerra contra a Ucrânia, mas que precisa acertar detalhes com os Estados Unidos, autor da proposta.
Também nesta quinta, Trump afirmou que está discutindo com a Ucrânia a concessão de territórios para Moscou e que a proposta está na mesa de Putin: “Agora vamos ver se a Rússia estará lá e, se não estiver, será um momento muito decepcionante para o mundo”.
A declaração de Putin, a primeira sobre o acordo proposto pelos EUA que já foi aceito pela Ucrânia, ocorreu em uma entrevista coletiva no Kremlin após encontro com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko.
“Concordamos com as propostas para cessar as hostilidades, mas partimos do fato de que essa interrupção [dos combates] deve ser de forma a levar a uma paz de longo prazo e elimine as causas originais desta crise”, disse Putin a repórteres.
Putin, que na quarta-feira visitou a região de Kursk para exigir mais rapidez das tropas russas para retomar o território dos ucranianos, falou que não discorda da proposta americana, mas fez uma série de questionamentos e disse que um acordo com a Ucrânia “deve levar a uma paz duradoura”.
“A ideia do cessar-fogo em si é correta e nós certamente a apoiamos, mas há questões que precisamos discutir. Por que eles precisam de 30 dias? Para a mobilização ou fornecimento de armas para a Ucrânia? Não está claro como a situação vai se desenvolver em Kursk e outros lugares. Quem irá controlar o cessar-fogo? São 2 mil quilômetros de frente de batalha”, perguntou o presidente russo.
De acordo com o site “Político”, o líder russo irá se encontrar mais tarde nesta quinta-feira com o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, que chegou ao país no início da tarde, no horário local (manhã no horário de Brasília). O presidente americano afirmou que seu representante está em “sérias discussões” na Rússia.
Trump também afirmou nesta quinta-feira que a declaração de Putin foi promissora, mas incompleta. Ele reiterou que quer ver um cessar-fogo e afirmou que está discutindo com autoridades ucranianas a concessão de territórios seus à Rússia.
“Estamos discutindo com a Ucrânia territórios que serão mantidos e perdidos, e todos os outros elementos de um acordo de cessar-fogo. Tem uma usina de energia envolvida, uma usina muito grande, então que é que vai ficar com a usina, com isso, com aquilo, não é um processo fácil”, disse o presidente dos EUA.
Na quarta-feira, ele havia afirmado que poderia pressionar o russo a aceitar a proposta. Ele evitou detalhar o que faria em caso de uma negativa, disse apenas que “posso fazer coisas financeiramente, e isso seria muito ruim para a Rússia. Não quero fazer isso porque quero obter paz”.
Mais cedo, a Rússia havia dado sinais contraditórios sobre a proposta americana. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o governo estava “pronto” para as negociações com Witkoff. Por outro lado, reiterou suas exigências para um acordo e o principal assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, criticou os termos.
Ushakov disse que um cessar-fogo de 30 dias apenas daria tempo para o Exército ucraniano se reorganizar. “A proposta não nos dá nada, só dá aos ucranianos uma oportunidade de se reagrupar, ganhar força e continuar a mesma coisa. (…) Neste momento, ninguém precisa de medidas que apenas imitem ações de paz”.
A Rússia afirma que quer um cessar-fogo definitivo na guerra e vê com maus olhos uma proposta de trégua temporária. Americanos e líderes europeus também já expressaram a importância e o desejo de chegar a um acordo que traga paz duradoura.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que os 30 dias de trégua poderiam ser utilizados para negociar um acordo de paz mais longevo.
Exigências e corrida contra o tempo

Putin usa roupas militares e exige rápida conclusão de retomada de região ocupada
Oficiais de alto escalão russos afirmaram à Reuters que uma proposta de cessar-fogo sem garantias ou compromissos concretos seria improvável de ser aceita pelo presidente russo. Em meio à chegada de Witkoff, o governo russo reiterou suas exigências para um cessar-fogo:
- Deve incluir garantias de segurança ao país;
- Qualquer presença de tropas da Otan na Ucrânia seria inaceitável;
- Não abrirá mão de territórios conquistados na Ucrânia;
- A Ucrânia tem que ser impossibilitada de entrar para a Otan.
A Rússia também corre contra o tempo para buscar uma posição ainda melhor nas negociações de paz. Apesar de estar tecnicamente vencendo a guerra, o país busca conseguir retomar o máximo possível de terras na região russa de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia, onde tropas ucranianas realizam contra-ofensiva desde agosto de 2024.
Putin apareceu vestindo trajes militares, vista incomum ao longo dos últimos meses do conflito, durante visita Kursk na quarta-feira. Putin ordenou que seus comandantes concluíssem rapidamente a operação.
A Ucrânia surpreendeu o mundo em 6 de agosto do ano passado ao atravessar a fronteira e capturar um pedaço do território russo. Zelensky têm usado o controle de suas tropas sobre a região de Kursk como moeda de troca em eventuais negociações.
Proposta de cessar-fogo

Trump fala de acordo de cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia
O acordo foi anunciado após uma reunião entre autoridades diplomáticas da Ucrânia e dos Estados Unidos na Arábia Saudita para discutir a guerra. A proposta de cessar-fogo ainda precisa ser aprovada pela Rússia e formalmente assinada pelas partes envolvidas no conflito.
Durante a reunião, os Estados Unidos anunciaram que retomarão o compartilhamento de informações de inteligência e assistência de segurança à Ucrânia. Além disso, os dois países concordaram em concluir o mais rápido possível um acordo para a exploração dos recursos minerais ucranianos.
“A Ucrânia está pronta para aceitar esta proposta — nós a vemos como um passo positivo e estamos prontos para isso. Agora, cabe aos Estados Unidos convencer a Rússia a fazer o mesmo. Se a Rússia concordar, o cessar-fogo entrará em vigor imediatamente”, afirmou.
Os detalhes do acordo ainda não foram divulgados por autoridades americanas e ucranianas, e não há prazo definido para o início do cessar-fogo, caso seja aprovado pela Rússia.
A negociação foi elogiada pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Ele afirmou que a proposta de cessar-fogo dá garantias de segurança ao país por terra, água e mar.
Ainda segundo Zelensky, a Ucrânia propôs que o acordo possibilite a troca de prisioneiros civis e militares, além da devolução de crianças ucranianas que foram levadas à força pela Rússia.
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Obra do artista italiano Tvboy sobre a carcaça de um tanque de guerra destruído na vila de Dmytrivka, perto de Kiev, mostra um pombo com as cores da bandeira ucraniana e um ramo no bico — Foto: Efrem Lukatsky/AP
Obra do artista italiano Tvboy sobre a carcaça de um tanque de guerra destruído na vila de Dmytrivka, perto de Kiev, mostra um pombo com as cores da bandeira ucraniana e um ramo no bico — Foto: Efrem Lukatsky/AP
O ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, afirmou nesta quarta-feira que a Rússia vai evitar se comprometer com acordos “que coloquem vidas em risco”, e reiterou a posição do governo russo de que qualquer acordo que tenha a presença de tropas da Otan na Ucrânia seria inaceitável.
Putin disse diversas vezes que é contra um cessar-fogo temporário na guerra. “Não precisamos de uma trégua, precisamos de uma paz de longo prazo garantida por meio de garantias para a Federação Russa e seus cidadãos. É uma questão difícil saber como assegurar essas garantias”, disse o presidente russo em dezembro.