Recém-lançado, jornal gratuito quer ajudar a preservar os Jardins
ANA RIBEIRO COLABORAÇÃO PARA A sãopaulo Faz 40 anos que seu Sinézio Batista Pereira, 90, vende jornais e revistas na banca Jardim Paulistano. Provavelmente não leu a maioria deles. Agora saiu um jornal que ele deve ter lido inteirinho: é que tem ali uma reportagem sobre ele e a história de seu negócio, na esquina da Joaquim Antunes com a Sampaio Vidal, hoje sob a direção do filho Fernando. Talvez por ironia, esse ele não vai vender: é de distribuição gratuita. Trata-se de “aQuadra”, publicação de tamanho tabloide, com papel de revista e colorido, que circulará a cada dois meses pelo bairro, na zona oeste da cidade. Helena Montanarini, curadora de moda e estilo, é a editora. Numa época de internet e produção digital, não é contra a corrente lançar um jornal impresso? Ela diz que não: “Gosto de fazer as coisas na contramão”. Também retratado no número um de “aQuadra”, cuja tiragem foi de 2.000 exemplares, o publicitário Ricardo Guimarães considera caloroso o jornal ser de papel. “Dá para andar com ele, levá-lo para a pracinha: a visibilidade cria identificação, aproxima as pessoas”, conta. A praça a que ele se refere, Gastão Vidigal, na rua Desembargador Mamede, tem reportagem na edição de lançamento. Outro personagem da primeira edição é o passeador de cachorros Wanderlei Santos Lemos, que iniciou esse tipo de atividade por ali, 11 anos atrás. Hoje, ele tem 21 clientes e leva 34 cachorros para passear diariamente, às vezes quatro ou cinco de cada vez, começando às 5h30 da manhã. CONEXÕES Helena descobriu o bairro em 1987, quando sua mãe, Maria, tornou-se chefe de cozinha da Casa Europa, função que exerceu por 17 anos. O restaurante ainda funciona no mesmo endereço, na alameda Gabriel Monteiro da Silva, 726. Antes, ali era a Padaria Europa, tocada por portugueses desde os anos 1950. Naquela época, havia apenas uma ou outra lojinha na via. Atualmente, é um corredor de lojas de decoração. A editora mora no Jardim Paulistano desde o ano 2000, em uma casa moderna, de concreto aparente e espaços vazados, projeto do arquiteto Marcio Kogan. “Aqui a gente respira, caminha, anda de bicicleta, encontra os vizinhos, conversa.” Ela espera que “aQuadra” ajude na luta para manter as características do bairro, a exemplo de 2015 quando, durante o processo de discussão da nova lei de zoneamento da cidade, moradores conseguiram evitar que certas ruas residenciais fossem abertas para o comércio. “Os vizinhos aqui são muito unidos e debatem permanentemente a situação do lugar”, conta Helena. “Se cada bairro da cidade se organizasse assim e fizesse chegar à prefeitura seus problemas de maneira clara e razoável, todos ganhariam, e São Paulo talvez pudesse caminhar no sentido de se tornar uma cidade melhor.”