Região ‘hipster’ da capital mexicana fica destruída
“Nenhum cigarro aceso. Desliguem seus celulares. Evacuem essa área”, gritavam os policiais. Um vazamento de gás ameaçava mandar pelos ares uma das belas praças cheias de árvores de Condesa, bairro nobre do centro da Cidade do México. Assim como Roma, outro reduto abastado, esse foi um dos pontos arrasados pelo terremoto que acabou com mais de 300 vidas no país e destruiu cerca de 50 prédios na capital mexicana na última semana. Em volta da praça onde militares tentavam evitar uma explosão, estão uma confeitaria francesa, um spa que só usa materiais orgânicos, um restaurante de comida macrobiótica e um café da moda –o sonho hipster virou pesadelo na ressaca do abalo. Uma rua interditada era um estacionamento de ambulâncias e carros de polícia. Na rua Colima, uma loja de departamentos transformou seu esnobe restaurante em centro de distribuição de comida a vítimas da tragédia. Jovens usando máscaras de gás, pás e marretas em punho, formavam um quadro inusitado diante de vitrines rachadas e esquecidas, uma espécie de distopia dos bairros alvos da gentrificação. Roma e Condesa, perto do centro histórico, surgiram como redutos de luxo no início do século 20. Depois do terremoto de 1985, no entanto, entraram em decadência para ressurgir nas últimas décadas como meca de butiques. Mas, longe de seus ares afetados, esses lugares viraram pontos centrais da operação de resgate numa Cidade do México aterrorizada pelo chão que insiste em tremer. Na praça Villa Madrid, à sombra de um prédio em escombros coberto com uma lona preta, voluntários estacionavam furgões para levar ajuda a outros pontos da cidade. Ali ao lado, o Contramar, restaurante que está entre os queridinhos da cena gastronômica local, virou uma cantina comunitária. Seus garçons de gravata borboleta serviam comida de graça noite adentro para hordas de voluntários. Em vez de executivos e hipsters, o salão se enchia de jovens de capacete, coletes e capas de chuva.